setembro 20, 2015

As Garotas Que Amavam Demais...


... nos dramas coreanos.

Foi enquanto assistia recentemente Bad Family (2006), uma pérola da dramaturgia televisiva coreana, que me dei conta de um fenômeno raro e pouco estudado, o da personagem secundária que se apaixona pelo protagonista... Mas não estou falando das rivais clássicas das protagonistas, mas daquelas que geram a simpatia do público, por seu amor não correspondido.

As discussões acaloradas sobre o amor não correspondido (‘one sided love’) dos personagens secundários por suas protagonistas são frequentes nos fóruns e blogs, mas pouco se fala das garotas que se apaixonam pelos heróis dos dramas... Duas situações costumam acontecer com elas nestes casos: ficarem sozinhas, ou ganharem um romance de consolo, nos minutos finais da estória.

É compreensível que as fãs de dramas se interessem muito mais por aquele personagem secundário masculino tão ou mais bonito que o protagonista, e se preocupem muito menos com a potencial rival da mocinha da trama. É simplesmente natural se identificar com a protagonista e torcer por ela. No entanto, para quem já assistiu um bom número de dramas, outros aspectos começam a chamar a atenção... Além disso, um bom drama não é feito apenas de protagonistas sedutores, mas de coadjuvantes interessantes, que contribuam com o desenvolvimento da estória de forma positiva.

Não existem tantas personagens coadjuvantes que sejam simpáticas à audiência, a não ser que sejam amigas da protagonista, ou façam parte da família do herói do drama. O habitual é a rivalidade explícita pelo amor do mocinho, com todo tipo de tramoia envolvido nesta conquista.

Se a coadjuvante merece ou não – numa realidade alternativa – acabar nos braços do seu amado, depende muito da empatia do personagem, mas também do carisma da atriz. Vamos a alguns exemplos (não há como evitar os spoilers, portanto, cuidado!)...


Em Bad Family, temos Ha Boo-kyeong, uma mulher jovem, bonita, super feminina, que, por azar, se apaixona por um bandido. O ditado de que os opostos se atraem não se aplica nesta estória. O gangster Oh Dal-gun (Kim Myeong-min) sente-se mais atraído por Yang-ah (Nam Sang-mi), uma garota de temperamento forte como o seu. Mas é impossível não simpatizar com a charmosa Boo-kyeong, já que seu amor é sincero, embora tão equivocado. As cenas entre Boo-kyeong e o bruto Dal-gun são engraçadas, mas ao mesmo tempo incrivelmente ternas. Um (quase) casal inesquecível.

É difícil competir com a própria irmã pelo primeiro amor...

Outra situação que me sensibiliza muito é a do primeiro amor... King of High School e Gap Dong são dois dramas que trazem adolescentes vivendo intensamente o primeiro amor, mas infelizmente o mesmo não é correspondido. King of High School fala do romance escolar... Normal, não é mesmo, se enamorar do melhor atleta (e o mais bonito, óbvio) da escola?! Felizmente, é mais fácil superar este sentimento e encontrar outro amor juvenil. Mas quando a adolescente se apaixona por um homem mais velho... Aí a coisa é bem mais complicada, já que os sentimentos de amor e proteção paterna costumam se misturar de modo perigoso.
 

Em Gap Dong (tvN, 2014), a paixonite de Ma Ji-wool (Kim Ji-won) pelo policial Ha Moo-yeom (Yoon Sang-hyun) coloca em risco muito mais do que uma simples desilusão amorosa.

Muitas mulheres já tiveram o coração partido por Lee Joon-ki... Ou melhor, por seus personagens heroicos nos dramas. Duas jovens belíssimas sofreram demais por Joon-ki (em sua fase atual de dramas sageuk), tanto em The Joseon Gunman como em The Scholar Who Walks The Night (MBC, 2015).


As espectadoras que perceberam a boa química entre Joon-ki-shi e sua coadjuvante em The Joseon Gunman, a atriz Jeon Hye-bin, podem consolar-se ao saber que a amizade do casal na vida real tem se fortalecido desde então (apesar de ele negar qualquer envolvimento amoroso). Já na ficção, ele escolheu Nam Sang-mi.


Em The Scholar Who Walks The Night, por outro lado, o que chamou a atenção foi a beleza impressionante da atriz Jang Hee-jin (como a gisaen Soo Hyang), e por isso mesmo, fica difícil acreditar que nosso herói a trocaria pela lindinha, mas imatura Lee Yoo-bi. Infelizmente, não sobrou para Soo Hyang nada além de amizade e gratidão de seu amado vampiro.


Por falar em se apaixonar pelo patrão (raramente uma boa ideia), Park Min-young foi mais uma a sofrer de amor não correspondido por Kim Myeong-min, no drama legal A New Leaf (MBC, 2014). Na verdade eu até torci para que ela ficasse com o gatíssimo Jin Yi-han (My Secret Hotel), mas o drama acabou abruptamente, sem dar tempo para romance de parte alguma. De qualquer modo, apesar de Park Min-young ser bem mais jovem que Kim Myeong-min, o casal combinava muito bem. Aliás, ver Kim Myeong-min envolvendo-se com sua ex-noiva Chae Jung-na (péssima atriz) foi uma das maiores decepções deste drama tão mal executado.

Seguindo no gênero legal, a comédia romântica Lawyers of Great Republic of Korea (MBC, 2008) nos apresentou um “quadrado” romântico muito interessante... Alguns espectadores podem ter achado a personagem interpretada pela bela atriz Han Eun-jung desagradável, mas certamente ela não era uma vilã no drama. Ela, aparentemente, quer se vingar do marido, reivindicando metade de sua fortuna, mas seus motivos são mais singelos do que se possa imaginar. Um drama que mostra de forma realista como o amor mais perfeito pode fracassar...

Mencionei anteriormente que uma boa atriz (num bom papel) pode conquistar o coração da audiência, e posso citar dois exemplos: Kim So-yeon, em Gourmet (SBS, 2008), e Kang So-ra em Doctor Stranger. No drama gastronômico Gourmet, Kim So-yeon se apaixona por Kim Rae-won, embora esteja noiva do irmão deste, Kwon Oh-jeong. É mais um caso clássico de atração pelo diferente, mas entendemos porque a sofisticada Joo-hee prefere o caloroso Sung-chan, ao frio chef Bong-joo. Mas também, ela não conhecia a regra de que ninguém mexe com os homens de Nam Sang-mi (a lista de conquistas da garota é grande, e de dar inveja. Repararam que ela é mencionada três vezes nesta lista?). 

Em Doctor Stranger (SBS, 2014) a fórmula que não deu certo é a seguinte: uma atriz carismática (Kang So-ra), com um enorme fã-clube, perde o amor do protagonista para uma rival muito sem sal. Foi uma verdadeira declaração de guerra à audiência feminina. No final das contas, um drama de roteiro sofrível, que gerou mais atenção do que merecia.


Tem casos em que o espectador é advertido, mesmo que indiretamente, desde o princípio, de que o casal protagonista não terá um final feliz. É o caso, por exemplo, do recente Assembly: o protagonista é casado, fim de papo! Mas acontece que ele está separado da mulher, e sua ligação com a protagonista é tão magnífica, que persiste, até o fim, a esperança de que haja uma reviravolta... Infelizmente, nestas horas, o conservadorismo impera.

Outro caso ainda mais comovente é o dos personagens que já ‘partiram desta para uma melhor’ e que, mesmo assim (ou por isso mesmo), enchem nossos corações de tristeza por seu amor impossível. 49 Days (SBS, 2011) e Oh My Ghostess são dois dramas que transformam suas personagens secundárias em heroínas trágicas... Quem não se comoveu com a ilusão de Nam Gyu-ri de que poderia vencer a morte, enquanto descobria os verdadeiros sentimentos de seu melhor amigo por ela?


Já o fantasma interpretado por Kim Seul-gi, é a versão mais divertida e romântica já criada para o clássico Cyrano de Bergerac. Oh My Ghostess é um caso único, no qual as duas protagonistas são complementares, e a encarnação quase literal de Park Bo-young como Kim Seul-gi é surpreendente e inesquecível. Mas Kim Seul-gi tem razão ao reclamar por não ter podido beijar o ator Cho Jung-seok. Que surjam oportunidades futuras para você, garota!

Ufa, na verdade eu teria mais uma meia dúzia de exemplos divertidos e dramáticos de garotas que amaram demais (e não foram correspondidas), mas já estou quase escrevendo um livro... Ficaria feliz com sugestões de vocês, de dramas que tenha marcado sua memória, por suas personagens femininas de coração partido...

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