abril 29, 2020

Itaewon Class (drama, 2020)




País: Coréia do Sul
Gênero: Drama
Duração: 16 episódios
Produção: jTBC TV

Direção: Kim Sung-yoon
Roteiro: Jo Gwang-jin, baseado em seu webtoon Itaewon Class

Elenco: Park Seo-joon, Yoo Jae-myung, Kim Da-mi, Kwon Nara, Ahn Bo-hyun, Kim Dong-hee, Ryoo Kyung-soo, Lee Joo-young, Kim Hye-eun, David Lee, Chris Lyon, Son Hyun-joo, Kim Yeo-jin, Kim Mi-kyung.

Resumo

O jovem Sae-ro-yi sonha em abrir um restaurante em Itaewon, o bairro boêmio de Seul.

Comentário

Uma lenta, mas inevitável, revolução social vem acontecendo na dramaturgia televisiva coreana nos últimos dois ou três anos. E o drama Itaewon Class é a melhor e mais definitiva prova disto. Em quase todas as culturas os quadrinhos, e agora os webtoons, sempre tiveram uma maior liberdade em abordar assuntos tabus. Mais além dos personagens marcantes da estória em quadrinhos, os temas polêmicos chamaram a atenção e ganharam a apreciação dos leitores de Itaewon Class. Pode-se questionar (e eu certamente questiono) a decisão de deixar a cargo do autor original a transposição da estória para a live action, mas o lado positivo é que a ousadia e o ‘frescor’ da estória foram mantidos.

Itaewon Class é um melodrama juvenil, quase uma fantasia, sobre um jovem que é motivado pelo desejo de vingança, mas que acaba usando esta energia negativa para superar seus problemas e ajudar os amigos que faz ao longo do caminho.

Quando digo que Itaewon Class pode ser classificado como uma fantasia, mesmo que contemporânea, é pela escolha em transformar a realidade capitalista/empresarial em uma batalha de capa e espada, e sabemos muito bem que o mundo dos negócios é muito mais complexo (e cruel) do que o que vemos neste drama. Para argumentar sobre minha reticência sobre o drama terei de revelar alguns spoilers, fica o aviso...

Park Seo-joon (Midnight Runners, Fight for My Way) é Park Sae-ro-yi, um jovem de bom coração, mas introvertido e por isso mesmo, muito solitário. Seu pai, Park Sung-Yeol (Son Hyun-joo, de 3 Days, Criminal Minds), funcionário antigo do grupo empresarial Jangga é transferido para uma cidade do interior, e matricula o filho na escola local. No primeiro dia de aula, Sae-ro-yi se envolve em uma briga ao defender um colega que estava sendo humilhado dentro da sala. Acontece que o autor do bulling é justamente o filho mais velho do chefe de seu pai, o CEO Jang Dae-hee (Yoo Jae-myung, de Forest of Secrets, Confession). Apesar de conhecer e confiar no Sr. Park há tantos anos, o presidente Jang logo revela seu caráter irascível, ao exigir que Sae-ro-yi se desculpe com seu filho mimado, Jang Geun-won (Ahn Bo-hyun, de Her Private Life). Sae-ro-yi se recusa a pedir perdão, com o apoio de seu pai, mas o castigo é a expulsão do rapaz da escola, e a demissão de seu pai da empresa Jangga. O pai de Sae-ro-yi, ao invés de esmorecer, vê no contratempo a oportunidade de abrir o próprio negócio. Com ajuda do filho, que pegou o gosto pela cozinha, por ser órfão de mãe, o Sr. Park abre um pequeno restaurante. Infelizmente, uma tragédia se abate sobre a família, com a morte do Sr. Park, vítima de um atropelamento e fuga. O único apoio emocional de Sae-ro-yi é a colega Oh Soo-a (Kwon Nara, de Doctor Prisioner, My Mister), uma garota órfã que tinha um carinho especial pelo Sr. Park. Mas nem mesmo Oh Soo-a consegue evitar que o rapaz vá atrás de Jang Geun-won, ao descobrir que ele pode ser o assassino de seu pai. Acusado de tentativa de homicídio, Sae-ro-yi é condenado a sete anos de prisão, e ao sair da cadeia seu objetivo é claro, fazer justiça contra aqueles que destruíram sua família e arruinaram seu futuro.

Um ponto positivo da estória é mostrar que não existem milagres monetários, isto é, o dinheiro não cai do céu. Como Sae-ro-yi não tem a sorte de ganhar na loteria, ao sair da cadeia ele põe em prática um plano a longo prazo para ganhar dinheiro o bastante para abrir um restaurante no bairro mais badalado de Seul, Itaewon. Sae-ro-yi passa os próximos sete anos em um barco de pesca em alto mar e, só então, pode abrir seu tão sonhado negócio. Com a ajuda dos únicos amigos, uma cozinheira, Ma Hyun-yi (Lee Joo-young, de Weightlifting Fairy Kim Bok-joo), e um garçon, Choi Seung-kwon (Ryoo Kyung-soo, de Confession), ele tem a ilusão de fazer grandes negócios... No entanto, não demora muito para o trio cair na real, e ver que a concorrência no bairro boêmio é implacável, e os clientes simplesmente não aparecem.

É com a ajuda da influenciadora digital e socialite Jo Yi-seo (Kim Da-mi, de The Witch: Part 1. The Subversion) que Sae-ro-yi irá aprender as ‘manhas’ do negócio e obterá o tão almejado sucesso. Só que a ambição de Sae-ro-yi é muito maior; o que ele quer mesmo é chegar a um nível tão alto que possa ameaçar o monopólio do business de alimentação do grupo Jangga.

Com o sucesso explosivo do restaurante DanBam, o plano ousado de Sae-ro-yi é o de abrir mais restaurantes e expandir o negócio com uma rede de franquias da marca. Seus maiores aliados são o amigo e assessor financeiro Lee Ho-jin (David Lee, de Save Me, Bring It On, Ghost), e a diretora do grupo Jangga, Kang Min-jung (Kim Hye-eun, de The Guest). Até aí tudo bem, já que estas duas pessoas são ‘entendidas’ no mundo dos negócios, e podem de fato orientar Sae-ro-yi. Mas tudo começa a ficar muito confuso e inverossímil quando Sae-ro-yi resolve ouvir os conselhos nada embasados de Jo Yi-seo, com a única justificativa de confiar na garota. Fica difícil engolir esta parte da trama, pois, por mais inteligente que Jo Yi-seo seja, ela é uma garota de 20 anos, que abandonou a faculdade, e tem experiência zero em administração financeira. O resultado é óbvio, e é frustrante ver com a garota se torna uma pedra no sapato de Sae-ro-yi, até mesmo com sua paixão obsessiva por ele. O personagem só não se torna mais desagradável pela atuação impecável da quase novata Kim Da-mi. Apostei até o fim (e errei, óbvio) que o relacionamento de Yi-seo e Sae-ro-yi iria por um caminho mais natural e realista. Perseguir alguém e ganhar pelo cansaço não é o melhor dos exemplos de comportamento, para ambos os sexos. É verdade que o desgaste emocional na relação de Sae-ro-yi e Oh Soo-a impediu que houvesse um futuro para o casal. Faltou a mão de um roteirista mais experiente para cortar estas arestas e ser mais pragmático com a porção romântica da trama.

Contos de vingança sempre me deixam um gosto amargo na boca, e é verdade que nem de longe é meu tipo preferido de estória. Tirando o romance “água com açúcar”, fica a frustração maior com a moral da estória: a vingança compensa, e o que importa é o pote de ouro no final do arco-íris. Não teria sido tão mais encantador ver Sae-ro-yi desfazendo-se da corporação e voltando às origens, no pequeno restaurante que seu pai sonhou ter, cozinhando pratos deliciosos, ao lado de sua amada (seja quem for)? A verdade é que os protagonistas de Itaewon Class são carismáticos o bastante para manter o interesse do espectador, mesmo com esvaziamento da trama em seu terceiro ato. Graças ao duelo de interpretações de Park Seo-joon (que preserva seu charme irresistível, mesmo com um corte de cabelo bizarro) e seu nêmesis, Yoo Jae-myung (um ator de método, que sempre nos surpreende e encanta), Itaewon Class é o drama que deve deixar a melhor lembrança em um ano conturbado como este, o ano da pandemia.
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