setembro 17, 2018

My Mister (tvN, 16 episódios)




O genial diretor Kim Won-suk (Misaeng, Signal) volta à TV com outra produção diferenciada, o drama existencialista My Mister (My Ahjusshi). Como já comentei em outro post, não sei como ainda não convenceram este senhor a voltar-se para o cinema, - até lá, garantimos nossos dramas no mais alto nível de qualidade. Aliás, seu próximo projeto, The Chronicles of Aseudal (tvN, 2019) já é esperado com ansiedade pelos fãs da dupla de roteiristas de The Six Flying Dragons.

O PD Kim e a roteirista Park Hae-Young (Oh Hae Young Again) nos brindam com o que talvez seja o melhor drama do ano, My Mister. My Mister aborda temas que sensibilizam em especial os habitantes das metrópoles, - solidão, desemprego, pobreza, violência, são chagas que afligem os personagens desta estória -, no entanto, mesmo na tragédia eles encontram consolo e esperança, quando um estranho lhes estende a mão.

O que torna atraente esta estória tão triste e ‘pesada’ é o olhar infinitamente carinhoso da escritora sobre seus personagens. O drama nos mostra que a solidão, embora comum a toda a humanidade, é um sentimento muito complexo, com significados diferentes para cada pessoa e para cada momento de sua vida. Park Dong-hoon (Lee Seong-kyeong, Miss Korea) é um homem que sofre de uma solidão profunda e crônica, apesar de ser um profissional bem sucedido, casado, e cercado do carinho de sua mãe e irmãos. Sua condição provoca o afastamento da esposa, Kang Yoon-hee (Lee Ji-ah, Beethoven Virus, The Ghost Detective), advogada, mãe, que busca consolo nos braços do amante, Do Joon-young (Kim Young-min). Do Joon-young, ex-colega de universidade de Park Dong-hoon e agora seu superior na empresa de engenharia, sofre de um complexo de inferioridade deprimente, que o leva a usar a amante como uma reafirmação de sua masculinidade.

Sang-hoon (Park Ho-san, Lawless Lawyer) e Gi-hoon (Song Sae-byeok, Seven Years of Night) são os irmãos de Park Dong-hoon, que após uma série de infortúnios na vida, voltam a morar com a mãe, a dona-de-casa viúva Byeon Yo-soon (Ko Du-shim). Entediados e desesperançados, Sang-hoon e Gi-hoon acompanham com preocupação fanática os menores eventos cotidianos da vida do irmão, contribuindo assim com os momentos mais enternecedores do drama. O primogênito Sang-hoon é um sujeito sensível, emotivo, que não tem forças para superar a falência de seu negócio, e o consequente fracasso do casamento. Gi-hoon (ex-diretor e roteirista de cinema), por sua vez, é ainda mais lamentável, já que uma única decepção profissional o deprimiu o bastante a ponto de fazê-lo se acomodar à vida de solteirão desempregado. A reaparição da atriz Choi Yoo-ra (Nara, Your Honor), que Gi-hoon considera sua ‘nemesis’, funciona como uma espécie de terapia de choque, que o obriga a repensar seu destino.

Os irmãos Park moram há anos no mesmo bairro, e, com os antigos e fiéis amigos de infância, compartilham partidas de futebol, além de bebedeiras quase diárias. A dona do boteco frequentado por eles é Jung-hee (Oh Na-ra, Judge vs Judge), que teve o coração partido por Gyum Duk (Park hae-joon, Misaeng), que a trocou pela vida celibatária de monge budista. Jung-hee não se conforma que Gyum Duk tenha abdicado de seu amor, pela solidão eterna no alto de uma montanha. O irônico é que ela, ao viver da memória deste amor, é a mais solitária dos dois.

Mas tudo muda na vida destes personagens, com a chegada de uma garota misteriosa, Lee Ji-an (IU, Moon Lovers: Scarlet Heart Ryeo). A princípio Lee Ji-an parece uma pequena marginal, o que não deixa de ser verdade, em parte, mas a estória que a levou até este ponto crítico é tão traumática quanto comum no mundo cruel em que vivemos. Órfã, ela luta para sustentar a si mesma e a avó surda-muda, enquanto é perseguida incansavelmente por Lee Gwang-il (Jang Ki-yong, Come and Hug Me), um agiota violento, estranhamente obsecado com a garota. Quando o destino une Park Dong-hoon e Lee Ji-an, o casal reconhece um no outro aquela solidão profundamente enraizada em suas almas, e que, milagrosamente, eles conseguem transformar em reparação.

Palmas para o roteiro brilhante, a direção sensível, sem ser invasiva, e, especialmente, para o elenco de My Mister. Lee Seong-kyeong, entre tantos papeis importantes na TV (Miss Korea, Golden Time) e no cinema (Paju, A Hard Day), chega ao auge como ator, ao interpretar um personagem tão complexo e carismático como Park Dong-hoon. IU bem que poderia usar seu nome de batismo, Lee Ji-eun, para descolar-se como atriz de sua bem sucedida carreira de cantora pop. Este drama foi um enorme passo na carreira desta jovem, para retirar de vez seu rótulo de celebridade pop, e inseri-la na lista das melhores atrizes de sua geração. Outra alegria que este drama nos proporcionou foi ver a volta cautelosa, mas marcante da atriz Lee Ji-ah, depois de anos de ostracismo forçado (por um casamento infeliz). Mais difícil ainda é descrever em palavras o prazer de ver esta dupla de veteranos do cinema, Park Ho-san e Song Sae-byeok, dando um show de interpretação, com um frescor e um desprendimento mais do que bem vindos na telinha. Pois é por estórias maravilhosas como estas, que nos deixam lembranças tão queridas, que aguardamos com expectativa a cada nova temporada. Sendo assim, até a próxima...

3 comentários:

  1. Oi Sam,
    Embora já tenha passado algum tempo, venho aqui só pra te agradecer. Em nenhum momento My Mister me chamou a atenção, mas ao ler você escrevendo sobre fiquei curiosa.Porque você falava com tanto carinho sobre este drama? E que linda surpresa eu tive ao ver tanta sensibilidade, digo quase uma obra de arte em forma de drama. Foi o último drama que assisti no drama fever. Fica aqui meu agradecimento pela indicação de um drama tão tocante e inesquecível.

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  2. Anônimo3:10 PM

    Um dos dramas mais lindos que já assisti, merecia um Oscar.

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  3. Anônimo12:29 PM

    Drama maravilhoso, onde ninguém fica junto...casais separados e vida que segue

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