País:
Coréia do Sul
Gênero:
Drama
Duração:
16 episódios
Produção:
jTBC TV
Direção:
Kim Sung-yoon
Roteiro:
Jo Gwang-jin, baseado em seu webtoon Itaewon
Class
Elenco:
Park Seo-joon, Yoo Jae-myung, Kim Da-mi, Kwon Nara, Ahn Bo-hyun, Kim Dong-hee,
Ryoo Kyung-soo, Lee Joo-young, Kim Hye-eun, David Lee, Chris Lyon, Son
Hyun-joo, Kim Yeo-jin, Kim Mi-kyung.
Resumo
O
jovem Sae-ro-yi sonha em abrir um restaurante em Itaewon, o bairro boêmio de
Seul.
Comentário
Uma
lenta, mas inevitável, revolução social vem acontecendo na dramaturgia
televisiva coreana nos últimos dois ou três anos. E o drama Itaewon Class é a melhor e mais
definitiva prova disto. Em quase todas as culturas os quadrinhos, e agora os
webtoons, sempre tiveram uma maior liberdade em abordar assuntos tabus. Mais
além dos personagens marcantes da estória em quadrinhos, os temas polêmicos
chamaram a atenção e ganharam a apreciação dos leitores de Itaewon Class. Pode-se questionar (e eu certamente questiono) a
decisão de deixar a cargo do autor original a transposição da estória para a live action, mas o lado positivo é que a
ousadia e o ‘frescor’ da estória foram mantidos.
Itaewon Class é um melodrama
juvenil, quase uma fantasia, sobre um jovem que é motivado pelo desejo de
vingança, mas que acaba usando esta energia negativa para superar seus
problemas e ajudar os amigos que faz ao longo do caminho.
Quando
digo que Itaewon Class pode ser
classificado como uma fantasia, mesmo que contemporânea, é pela escolha em
transformar a realidade capitalista/empresarial em uma batalha de capa e
espada, e sabemos muito bem que o mundo dos negócios é muito mais complexo (e
cruel) do que o que vemos neste drama. Para argumentar sobre minha reticência
sobre o drama terei de revelar alguns spoilers,
fica o aviso...
Park
Seo-joon (Midnight Runners, Fight for My Way) é Park Sae-ro-yi, um
jovem de bom coração, mas introvertido e por isso mesmo, muito solitário. Seu
pai, Park Sung-Yeol (Son Hyun-joo, de 3 Days, Criminal Minds), funcionário
antigo do grupo empresarial Jangga é transferido para uma cidade do interior, e
matricula o filho na escola local. No primeiro dia de aula, Sae-ro-yi se
envolve em uma briga ao defender um colega que estava sendo humilhado dentro da
sala. Acontece que o autor do bulling
é justamente o filho mais velho do chefe de seu pai, o CEO Jang Dae-hee (Yoo
Jae-myung, de Forest of Secrets, Confession). Apesar de conhecer e
confiar no Sr. Park há tantos anos, o presidente Jang logo revela seu caráter irascível,
ao exigir que Sae-ro-yi se desculpe com seu filho mimado, Jang Geun-won (Ahn
Bo-hyun, de Her Private Life). Sae-ro-yi
se recusa a pedir perdão, com o apoio de seu pai, mas o castigo é a expulsão do
rapaz da escola, e a demissão de seu pai da empresa Jangga. O pai de Sae-ro-yi,
ao invés de esmorecer, vê no contratempo a oportunidade de abrir o próprio negócio.
Com ajuda do filho, que pegou o gosto pela cozinha, por ser órfão de mãe, o Sr.
Park abre um pequeno restaurante. Infelizmente, uma tragédia se abate sobre a
família, com a morte do Sr. Park, vítima de um atropelamento e fuga. O único
apoio emocional de Sae-ro-yi é a colega Oh Soo-a (Kwon Nara, de Doctor Prisioner, My Mister), uma garota órfã que tinha um carinho especial pelo Sr.
Park. Mas nem mesmo Oh Soo-a consegue evitar que o rapaz vá atrás de Jang Geun-won,
ao descobrir que ele pode ser o assassino de seu pai. Acusado de tentativa de
homicídio, Sae-ro-yi é condenado a sete anos de prisão, e ao sair da cadeia seu
objetivo é claro, fazer justiça contra aqueles que destruíram sua família e arruinaram
seu futuro.
Um
ponto positivo da estória é mostrar que não existem milagres monetários, isto
é, o dinheiro não cai do céu. Como Sae-ro-yi não tem a sorte de ganhar na
loteria, ao sair da cadeia ele põe em prática um plano a longo prazo para
ganhar dinheiro o bastante para abrir um restaurante no bairro mais badalado de
Seul, Itaewon. Sae-ro-yi passa os próximos sete anos em um barco de pesca em
alto mar e, só então, pode abrir seu tão sonhado negócio. Com a ajuda dos
únicos amigos, uma cozinheira, Ma Hyun-yi (Lee Joo-young, de Weightlifting Fairy Kim Bok-joo), e um
garçon, Choi Seung-kwon (Ryoo Kyung-soo, de Confession),
ele tem a ilusão de fazer grandes negócios... No entanto, não demora muito para o
trio cair na real, e ver que a concorrência no bairro boêmio é implacável, e os
clientes simplesmente não aparecem.
É
com a ajuda da influenciadora digital e socialite Jo Yi-seo (Kim Da-mi, de The Witch: Part 1. The Subversion) que Sae-ro-yi
irá aprender as ‘manhas’ do negócio e obterá o tão almejado sucesso. Só que a
ambição de Sae-ro-yi é muito maior; o que ele quer mesmo é chegar a um nível
tão alto que possa ameaçar o monopólio do business
de alimentação do grupo Jangga.
Com
o sucesso explosivo do restaurante DanBam, o plano ousado de Sae-ro-yi é o de
abrir mais restaurantes e expandir o negócio com uma rede de franquias da
marca. Seus maiores aliados são o amigo e assessor financeiro Lee Ho-jin (David
Lee, de Save Me, Bring It On, Ghost), e a diretora do grupo Jangga, Kang Min-jung (Kim
Hye-eun, de The Guest). Até aí tudo
bem, já que estas duas pessoas são ‘entendidas’ no mundo dos negócios, e podem de
fato orientar Sae-ro-yi. Mas tudo começa a ficar muito confuso e inverossímil
quando Sae-ro-yi resolve ouvir os conselhos nada embasados de Jo Yi-seo, com a única
justificativa de confiar na garota. Fica difícil engolir esta parte da trama,
pois, por mais inteligente que Jo Yi-seo seja, ela é uma garota de 20 anos, que
abandonou a faculdade, e tem experiência zero em administração financeira. O
resultado é óbvio, e é frustrante ver com a garota se torna uma pedra no sapato
de Sae-ro-yi, até mesmo com sua paixão obsessiva por ele. O personagem só não
se torna mais desagradável pela atuação impecável da quase novata Kim Da-mi. Apostei
até o fim (e errei, óbvio) que o relacionamento de Yi-seo e Sae-ro-yi iria por
um caminho mais natural e realista. Perseguir alguém e ganhar pelo cansaço não é
o melhor dos exemplos de comportamento, para ambos os sexos. É verdade que o desgaste
emocional na relação de Sae-ro-yi e Oh Soo-a impediu que houvesse um futuro
para o casal. Faltou a mão de um roteirista mais experiente para cortar estas
arestas e ser mais pragmático com a porção romântica da trama.
Contos
de vingança sempre me deixam um gosto amargo na boca, e é verdade que nem de
longe é meu tipo preferido de estória. Tirando o romance “água com açúcar”,
fica a frustração maior com a moral da estória: a vingança compensa, e o que
importa é o pote de ouro no final do arco-íris. Não teria sido tão mais
encantador ver Sae-ro-yi desfazendo-se da corporação e voltando às origens, no
pequeno restaurante que seu pai sonhou ter, cozinhando pratos deliciosos, ao
lado de sua amada (seja quem for)? A verdade é que os protagonistas de Itaewon Class são carismáticos o
bastante para manter o interesse do espectador, mesmo com esvaziamento da trama
em seu terceiro ato. Graças ao duelo de interpretações de Park Seo-joon (que
preserva seu charme irresistível, mesmo com um corte de cabelo bizarro) e seu
nêmesis, Yoo Jae-myung (um ator de método, que sempre nos surpreende e
encanta), Itaewon Class é o drama que
deve deixar a melhor lembrança em um ano conturbado como este, o ano da
pandemia.