setembro 19, 2019

Watcher (drama, 2019)




País: Coréia do Sul
Gênero: Policial, Suspense
Duração: 16 episódios
Produção: OCN

Direção: Ahn Gil-ho
Roteiro: Han Sang-woon

Elenco: Han Suk-kyu, Seo Kang-joon, Kim Hyun-joo, Ahn Kil-kang, Park Jin-woo, Heo Sung-tae, Park Joo-hee, Kim Soo-jin.

Resumo

Um policial veterano e uma advogada formam uma equipe de investigação de assuntos internos.

Comentário

Este não foi um ano prolífico no gênero policial, mas posso recomendar com entusiasmo ao menos um título, WATCHER, mais uma produção excelente da OCN TV. E neste caso, os talentos envolvidos realmente fizeram a diferença, a começar pelo diretor, Ahn Gil-ho. Não é preciso recorrer à ficha técnica para perceber que há um diretor diferenciado na condução da estória. O PD Ahn Gil-ho, responsável por dramas importantes como Forest of Secrets, ou Memories of the Alhambra, só para citar os mais recentes, tem uma sensibilidade incrível para criar ambientes “climáticos”, sem cair na vulgaridade do suspense barato. Genial, por exemplo, é sinalizar o enlace da introdução de cada capítulo com a câmera congelada, o protagonista se desloca, encarando-nos, enquanto o título, em letras brancas garrafais, preenche a tela. Uma ideia simples, mas de grande impacto.

Bem, mas de nada adianta uma grande direção sem uma boa estória para contar. Surpreendente é a qualidade do roteiro, já que Han Sang-woon não é um escritor conhecido por algum projeto de grande sucesso. Da adaptação da série norte-americana The Good Wife (2016), ao suspense Spy (2015), o trabalho de Han Sang-woon não havia chamado a atenção do público, até o momento. Mas parece que o rapaz ‘desencantou’, pois Watcher é um roteiro especial, entre tantos dramas policiais com tramas formais que conhecemos. A princípio, a estória parece muito simples: policiais que investigam a má conduta de colegas, enquanto investigam crimes do passado e do presente. Daí vem o título do drama, Watcher, traduzido aqui como ‘vigilante’, ou, mais genericamente, ‘observador’.

Do Chi-gwang (Han Suk-kyu, de Romantic Doctor Teacher Kim, The Berlin File) é um policial veterano, que por sua rebeldia é ‘premiado’ com a transferência para a divisão de assuntos internos, que é o mesmo que declarar seu suicídio profissional. Sentado em uma sala nos porões do prédio da administração central de polícia, Do Chi-gwang tem muito que ruminar sobre seus erros passados, enquanto planeja uma volta por cima em sua carreira. Se Do Chi-gwang considera investigar os colegas uma questão de justiça, e nunca de vingança, o mesmo não vale para a advogada Han Tae-joo. Muito pelo contrário! A ex-promotora e hoje advogada Han Tae-joo (Kim Hyun-joo, de Fantastic, This is Family) não tem nada no coração além de um desejo de vingança que beira a obsessão. Não que ela não tenha razão, pois, passados quinze anos, o trauma de ter sido sequestrada e torturada nunca pôde ser devidamente superado. Conhecer o motivo e a identidade do perpetrador é o objetivo central de sua vida. Suspeitando que a polícia estivesse envolvida nestes eventos traumáticos, ela se voluntaria a fazer parte da nova equipe de assuntos internos. Conhecendo bem as motivações pessoais da advogada, Do Chi-gwang sente-se contrariado com a situação, mas nada pode fazer a respeito. Pior, junto desta imposição vem outra ainda mais incômoda para ele, a presença do jovem policial Kim Young-koon (Seo Kang-joon, de The Third Charm, Are You Human Too). Acontece que Young-koon é filho de um ex-colega de Do Chi-gwang, chamado Kim Jae-myung (Ahn Kil-kang, The Nokdu Flower). Kim Jae-myung está preso há quinze anos, acusado de assassinato e corrupção.

Como se pode imaginar, não é nada agradável o clima entre os membros desta pequena equipe, sem contar o desprezo dos demais colegas, alvo constante de sua vigilância. Para os homens da lei, vergonha maior que corromper-se ou burlar as regras é ser dedurado por um parceiro. No entanto, para rejeitados sociais como o trio Do Chi-gwang, Kim Young-koon e Han Tae-joo, os olhares de reprovação dos colegas são o de menos, comparado às agendas pessoais que movem suas vidas.

Não demora muito para que Do Chi-gwang perceba que os planos de sua superior, a comissária Yeom Dong-sook (Kim Soo-jin) são muito mais ambiciosos, ou seja, ela pretende enquadrar supostos agentes corruptos do ministério público. Só que mexer com os meandros do poder judiciário é bem mais complicado, como Do Chi-gwang vai perceber, ou melhor, ‘sentir na pele’. É como diz o ditado, puxa-se um fio e vem uma meada inteira, e os policiais ver-se-ão enrolados em uma trama tão complicada quanto perigosa.

Aqui preciso abrir um parêntese para mencionar como são bem construídos os personagens desta estória, e como os atores nos envolvem com suas interpretações fenomenais. O melhor de tudo é que não há um grande protagonista, mas um trio de personagens dos mais intrigantes que já vi. Han Suk-kyu é um dos melhores atores da Coréia do Sul, um dos integrantes cruciais da grande onda do cinema coreano iniciada no final dos anos noventa. Foi com títulos importantes como Shiri (1999) que Han Suk-kyu e o grande Choi Min-sik chamaram a atenção do mundo inteiro, e nunca deixaram de brilhar. Os anos passam e Han Suk-kyu parece não envelhecer; é o tipo de ator que escolhe personagens variados, mas sem mudar muito o visual externo (com exceção talvez do filme Eye for an Eye). Sua força vem da voz gutural, do rosto expressivo e do gestual cuidadosamente estudado para cada personagem. Do Chi-gwang parece ter sido um personagem muito bem preparado pelo ator, certamente com a orientação do diretor. Quem é realmente Do Chi-gwang? Seu discurso justo e correto é sincero, ou trata-se de uma máscara, que esconde uma criatura muito mais sombria? Todas estas perguntas fascinam e ao mesmo tempo amedrontam o espectador, pois é impossível não torcer para que ele seja o protetor, mais do que o vigilante, no sentido de ‘justiceiro’. Para mim, este é o verdadeiro suspense, a grande questão da trama, e Han Suk-kyu nos tortura com maestria, do início ao fim...

Enquanto Do Chi-gwang e Kim Young-koon correm desesperados de um lado para o outro atrás dos malfeitores, é a bela e misteriosa Han Tae-joo o verdadeiro cérebro da trama. Han Tae-joo é uma verdadeira mestra de xadrez, prevendo as ações dos adversários, e movimentando suas peças com agilidade, embora nem sempre para o bem comum. Depois de tantos papeis divertidos, mas tolos, em dramas de família, finalmente Kim Hyun-joo vem sendo reconhecida por seu talento, e sua atuação em Watcher é um grande presente para seus fãs.

O mesmo vale para Seo Kang-joon, que, de membro de boy band a ator ‘sério’ vem trilhando um caminho longo, mas sólido. Suas escolhas têm sido às vezes arriscadas, mas entende-se sua opção por fugir de papeis clichê, que dependam apenas de sua beleza incontestável. Ele já provou sua versatilidade, tanto na comédia (The Third Charm) como no drama (Are You Human Too), e aguardamos com ansiedade seu novo projeto If the Weather is Good, I´ll Find You (jtbc, 2020).

Há um fator crucial em Watcher, que o diferencia de qualquer drama policial já visto (ou filme, ou série), que é a grande ‘sacada’ da estória, e se você já assistiu, ou irá assistir, desafio-o a descobrir do que se trata... Uma dica: um personagem que deveria estar presente, como em qualquer trama policial, mas que nunca aparece...

Um comentário:

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