agosto 13, 2019

The Nokdu Flower (drama, 2019)




País: Coréia do Sul
Gênero: Épico, Drama
Duração: 48 episódios
Produção: SBS TV

Direção: Shin Kyung-soo
Roteiro: Jung Hyun-min

Elenco: Cho Jung-seok, Yoon Si-yoon, Han Ye-ri, Choi Moo-sung, Park Hyuk-kwon, Seo Young-hee, Choi Won-young, Park Gyu-young, Kim Sang-ho.

Resumo

Ao final do século XIX, explode uma grande revolução popular, e dois irmãos lutam em lados opostos desta rebelião sangrenta.

Comentário

Na tradição dos dramas coreanos temos os populares épicos de fantasia, ou de romance açucarado, com príncipes nobres, camponesas rebeldes, e, afortunadamente, de tempos em tempos surge um drama histórico que procura inspirar-se em personagens conhecidos, e suas vidas heroicas.

Shin Kyung-soo é apenas um dos melhores diretores de dramas históricos da atualidade, com títulos importantes como Tree With Deep Roots (2011), ou o espetacular Six Flying Dragons (2015), ambos escritos por uma dupla igualmente brilhante, Kim Young-Hyun e Park Sang-Yeon (Arthdal Chronicles, tvN, 2019). Para esta grande empreitada o PD Shin uniu-se a outro roteirista talentoso, Jung Hyun-Min (Jeong DoJeon, Assembly), e o resultado não poderia ter sido mais satisfatório.

Mais do que um drama de guerra, The Nokdu Flower é um libelo ao humanismo, à liberdade é a paz. Dividido em três atos, The Nokdu Flower centra-se no período mais dramático e possivelmente o mais sangrento da história da Península Coreana. Na primeira parte, acompanhamos os eventos que levaram ao levante popular contra o monarca da época. Às vésperas da entrada do século XX, a Coréia ainda é um reino de estrutura medieval, o que é surpreendente e até mesmo chocante, levando-se em conta que a Europa, por exemplo, avançava em plena era industrial. Em 1894 explode a rebelião conhecida como Revolução Campesina de Donghak. Um grupo heterogêneo composto de militares, intelectuais e camponeses é reunido pelo líder carismático Jeon Bong-joon (Choi Moo-sung, Prision Playbook, Heartless City). O objetivo de Jeon Bong-joon não é derrubar o rei, mas despertar o governo central para as mazelas do povo campesino, que habitava as regiões mais afastadas da capital. A corrupção era o grande mal que afligia o sistema de governo da época. Cobrança excessiva de impostos, desvios das riquezas e brutalidade policial levaram a uma revolta crescente da população mais pobre. Até mesmo a escravidão, abolida há tempos nos países mais desenvolvidos, persistia na sociedade coreana, alimentando um sistema de castas dos mais injustos... Enfim, o país transformou-se em um verdadeiro barril de pólvora, que viria a explodir com a revolta popular na Província de Jeolla.

Quando a revolução parecia finalmente estar colhendo seus frutos, com um acordo de paz travado entre Jeon Bong-joon e o Rei Gojong, uma ameaça terrível surge de além mar. Monitorando cuidadosamente a instabilidade social de Joseon, o Império Japonês vê uma oportunidade única para invadir o território coreano, o que não seria a primeira vez, mas certamente a mais longa e sangrenta na história da região. Somando as invasões de China e Coréia, ao desencadear da II Guerra Mundial, o estrago provocado pelos japoneses gerou feridas até hoje não cicatrizadas entre os países envolvidos.

Com a invasão japonesa concretizada e irreversível, chegamos ao último ato desta saga, embora não ao final desta estória, que se prolongaria por muitos e muitos anos mais. O modesto grupo de rebeldes campesinos foi promovido a exército da liberdade do reinado de Joseon, e muitas gerações a seguir sacrificaram-se para devolver a paz ao seu país.

Dois irmãos representam a sociedade da época: Baek Yi-hyun (Yoon Si-yoon, Flower Boy Next Door, The Best Hit), nascido em berço de ouro, e Baek Yi-kang (Cho Jung-seok, Oh My Ghost, Incarnate of Jealousy), o bastardo, filho de uma escrava. O pai de ambos, Baek Man-deuk (Park Hyuk-kwon) é um comerciante bem sucedido, mas, na falta de um título de nobreza, ambiciona promover o filho Yi-hyun a funcionário público, e casá-lo com uma moça nobre. A prometida de Yi-hyun é Myung-sim (Park Gyu-young), a filha de seu mestre intelectual, Hwang Seok-joo (Choi Won-young).

Yi-kang nasce da relação não consentida entre Baek Man-deuk e Yoo-wol (Seo Young-hee), uma serviçal da família, escravizada desde a infância. Baek Man-deuk  tem uma relação ambígua com seu filho bastardo, - embora tenha lhe dado seu sobrenome, o trata como uma espécie de capanga, forçando o rapaz a fazer todo o tipo de trabalho sujo, como cobrar dívidas de clientes, e Yi-kang ganha uma má fama na cidade, por sua violência desmedida. Surpreendentemente, a relação entre os irmãos Baek é terna, apesar da enorme e injusta desigualdade social na família... Quando Yi-hyun retorna de um período de estudos no Japão e se prepara para a carreira pública, seu irmão mais velho, Yi-kang, é acusado de assassinato e foge da cidade, para evitar a prisão, ou destino ainda pior. Neste meio tempo o exército camponês se prepara para uma grande rebelião, enquanto a marinha japonesa chega à costa de Joseon, com as piores das intenções.

A partir destes eventos dramáticos, a família Baek irá dividir-se para sempre nos ideais e aspirações sobre o futuro de sua terra natal. Cada irmão tem suas razões para escolher o lado pelo qual irá lutar, - somente o futuro poderia dizer quem estava certo, e os que seriam considerados lamentáveis traidores da pátria. Sem entregar o desfecho da estória, é interessante meditar sobre até que ponto as motivações de um indivíduo ou nação podem ser justificáveis. O oficial japonês Takeda (Lee Ki-chan) diz a Baek Yi-hyun que Joseon depende da “ajuda” de seu país para deixar de ser uma terra de gente rude e ignorante, e passar a fazer parte do mundo civilizado. Quão generoso da parte deles, invadir, matar e escravizar, em nome do progresso... Como disse o escritor Robert E. Howard, a barbárie é o estado natural da humanidade, e a civilização, consequentemente, é a sua ruína.

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