País:
Coréia do Sul
Gênero:
Drama, Suspense
Duração:
131 min.
Distribuição:
CJ Ent.
Direção:
Bong Joong-ho
Roteiro:
Bong Joong-ho, Han Ji-won
Fotografia:
Hong Kyung-pyo
Elenco:
Song Kang-ho, Jang Hye-jin, Choi Woo-sik, Park So-dam, Lee Sun-kyun, Cho
Yeo-jeong, Jung Ji-so, Jeong Hyun-jun, Lee Jung-eun, Park Myung-hoon.
Resumo
A
família Kim, unida na pobreza e no desemprego, vislumbra um futuro melhor ao
conhecer a família Park, que desfruta das infinitas benesses da alta sociedade.
Comentário
(sem
spoilers, fora observações sobre o perfil de alguns personagens)
O
cultuado diretor Bong Joong-ho está de volta com uma produção cem por cento
coreana, depois de dois projetos internacionais, Snow Piercer (2012) e Okja
(2017). O resultado foi dos mais positivos, e Parasite foi aclamado por público e crítica, tendo faturado a tão
cobiçada Palme d´Or, no Festival Internacional de Cinema de Cannes.
À
parte da qualidade indubitável do filme, a aprovação quase unânime de Parasite se deve, sem dúvida, ao seu tema
de apelo universal. A desigualdade social está presente em todos os cantos do
planeta, e a estória da família Kim poderia ser a estória de vida da família
Silva, Smith, Suzuki, e assim por diante... Para os coreanos, o filme deve
calar ainda mais fundo, já que foram séculos de guerra, fome e escravidão na
estória do país, que nos últimos anos vive um renascimento social, cultural e
tecnológico invejáveis. No entanto, esta mesma evolução industrial não alcança uma parte
da sociedade, que é empurrada cada vez mais para a periferia das metrópoles, ficando
apenas com as migalhas do sonho capitalista. E a família Kim faz parte desta
fatia desprivilegiada da sociedade, fora do mercado de trabalho formal, sem
educação, ou alimentação saudável.
Kim
Ki-taek (Song Kang-ho, - A Taxi Driver,
The Host), motorista desempregado, compartilha,
com mulher e casal de filhos, um apartamento no subsolo de um prédio, infestado
de pragas e pouco iluminado. Sua esposa, Chung-sook (Jang Hye-jin, - Family Affair), uma ex-atleta medalista,
parece conformada com a situação precária da família, que trabalha unida montando
caixas de pizza, em troca de alguns centavos. O casal de filhos, Ki-woo (Choi
Woo-sik,- Train to Busan) e Ki-jung (Park
So-dam, - Beautiful Mind) vai na onda
dos pais, e vive numa espécie de torpor, diante das desanimadoras perspectivas
de vida. A união familiar, ao invés de ser comovente, parece apenas ressaltar
suas fraquezas pessoais.
Certo
dia, o jovem Ki-woo sai para beber com seu único amigo dos tempos de escola, Min-hyuk
(Park Seo-joon, - Fight for My Way), e
este lhe propõe que assuma seu ‘bico’ de tutor de inglês de uma garota rica, já
que ele está indo estudar no exterior por uns tempos. Além do mais, Min-hyuk
confessa estar apaixonado pela menina, e planeja pedi-la em namoro assim que ela
entrar na universidade. Esta confissão parece despertar mais o interesse de
Ki-woo no emprego, do que a oportunidade financeira em si. Antes de partir,
Min-hyuk surge no porão dos Kim com um presente de despedida, que parece
simbolizar a caixa de Pandora que se abrirá para desencadear os eventos mais
inusitados em suas vidas.
Ao
ser admitido na mansão da família Park, Ki-woo sente estar entrando em outro
mundo, como Alice pisando no País das Maravilhas, repleto de personagens tão
fascinantes quanto bizarros. A dona da casa, Choi Yeon-kyo (Cho Yeo-jeong, - Divorce Lawyer in Law), é uma mulher
frágil, que tenta disfarçar sua insegurança social com uma dedicação obsessiva
com as vontades do marido. O Sr. Park (Lee Sun-kyun, - My Mister, Miss Korea),
empresário bem sucedido, sob um verniz de educação e civilidade, é um homem
esnobe e preconceituoso. A filha, Da-hye (Jung Ji-so, - Hwajung) é uma adolescente típica, mais interessada em romance do
que nos estudos. Seu irmão caçula, Da-song (Jeong Hyun-jun, - Nokdu Flower), é um menino mimado, cujas
birras são interpretadas pelos pais como genialidade, ou ainda um trauma psicológico
misterioso. Apesar da afetação da Sra. Choi, quem administra a casa com mão de
ferro é a governanta Gook Moon-gwang (Lee Jung-eun, - Strangers from Hell).
Não
demora muito para que Ki-woo veja a oportunidade de trazer sua irmã, Ki-jung, para
dentro da mansão dos Park, como tutora do caçula da família. O desembaraço com
que os irmãos lidam com a família Park nos faz questionar o porquê de sua
situação social tão precária. Será que um diploma ‘5 estrelas’ e contatos
importantes são a única forma de um cidadão ter uma vida decente nesta
sociedade? O instigante desta estória é a dualidade de sentimentos (e
sensações) que os personagens despertam em nós, espectadores... Quem é o ‘parasita’
do título? Qual o futuro das ditas superpotências tecnológicas, que canibalizam
sua própria população, em nome do progresso?
Parasite é um filme
precioso, e cineastas autorais, que produzem roteiros originais, são cada vez
mais raros no cinema... Com seu prestígio e respeito, Bong Joong-ho pode se
cercar de grandes profissionais, como o diretor de fotografia Hong Kyung-pyo (Burning, Snowpiercer), e atores tarimbados como Song Kang-ho, companheiro de
tantos outros filmes seus. Ainda que Parasite
seja um filme brilhante, eu, como grande fã do diretor, ainda fico com Memories of Murder, muito acima de
todos, e como crítica social, ainda prefiro The
Host. De qualquer modo, vale a pena conferir os filmes anteriores do
diretor, pois a diversão é garantida.