País
de origem: Coréia do Sul
Gênero:
Comédia, DramaDuração: 115 min.
Direção
e Roteiro: Hong Sang-soo
Elenco:
Kim Sang-kyeong, Yoo Joon-sang, Kim Kang-woo, Yeh Ji-won,
Moon So-ri.
Resumo
Dois amigos se reunem para beber e compartilhar estórias sobre suas aventuras no último verão.
Comentário
Depois
de acumular quase uma dúzia de filmes em sua carreira de
diretor/roteirista/produtor, Hong Sang-soo (1960) conquistou os jurados do 63º Festival
de Cinema de Cannes (na categoria "Un
Certain Regard") com
a comédia Ha Ha Ha.
Com
um tom bem menos sarcástico, e muito mais cômico, o cineasta Hong não chega a
inovar, mas pode surpreender e agradar a um público não tão afeito ao cinema
independente.
Os
personagens de Hong continuam essencialmente os mesmos, homens intelectuais que
circulam no meio acadêmico, e que perseguem belas jovens impressionáveis e, na
maioria das vezes, emocionalmente instáveis.
A
palavra é o combustível que move os personagens de Hong Sang-soo , e é
impossível não comparar o seu trabalho ao de cineastas como Woody Allen, Eric
Rohmer, entre outros. Aliás, não surpreende que os críticos franceses admirem
tanto o cineasta coreano – muito mais do que os conterrâneos dele. Esta
foi a sexta visita do diretor ao prestigiado festival de cinema francês.
Como
em Woman on the Beach, os protagonistas de Ha Ha Ha vão à praia, só que desta
vez na cidade litorânea de Tongyeong,
onde a paisagem urbana predomina sobre a marinha, que aparece apenas em alguns
relances.
O “gatilho” da estória
está no encontro entre dois amigos, Moon-gyeong (Kim Sang-kyeong), cineasta, e Joong-sik
(Yoo Joon-sang), crítico de cinema. Numa conversa de bar, entre um brinde de
outro de makgeolli (vinho de arroz
tradicional coreano), eles acabam se dando conta que estiveram em Tongyeong ao
mesmo tempo, no último verão. Eles se revezam na descrição de suas aventuras,
as novas amizades que fizeram e as mulheres que conheceram.
Durante este bate-papo
descontraído, descobrimos que as pessoas que ambos encontraram em Tongyeong foram
as mesmas, embora os amigos não tenham concidido em nenhuma ocasião. Realmente,
esta é a grande ‘sacada’ do filme, pois a interligação das estórias cria uma expectativa
crescente, além de realçar o lado cômico da trama.
Felizmente, não se trata
da repetição da mesma estória sob dois pontos de vista, mas da visão única de
dois homens, sobre a sociedade que que os cerca. Moon-gyeong e Joong-sik não estão interessados em discutir,
mas sim compartilhar suas desventuras amorosas e familiares, num divertido clima
de camaradagem.
Os personagens masculinos
de Hong
Sang-soo continuam imaturos, fracos, mulherengos e convencidos. Embora anteriormente eu tenha deixado clara
minha aversão ao caráter dos personagens de Hong Sang-soo (especificamente no
filme Woman on the Beach), os protagonistas de Ha Ha Ha, se não chegam a ser
adoráveis, geram uma empatia quase involuntária no espectador.
Kim Sang-kyung (Memories of Murder, White Christmas) está
hilário como o auto-intitulado diretor de cinema Moon-gyeong – obviamente um alter-ego
do diretor Hong. Com trejeitos nervosos a la Woody Allen, e bem acima do peso, ainda
assim Kim Sang-kyung não perde seu charme de eterno garotão. Cena inesquecível
do filme: Moon-gyeong apanhando da mãe com um cabide.
Yoo Joon-sang, como o crítico
de cinema Joong-sik também compõe um personagem complexo, neurótico, bipolar. Ele
passa o filme engolindo pílulas, e não se constrange em admitir, para quem
quiser ouvir, que sofre de depressão profunda. A namorada tenta apoiá-lo, mas o
clima pesa quando ela cobra que Joong separe de uma vez da esposa.
Até Kim Kang-woo (Haeundae Lovers), que considero
um ator dos mais fracos (embora seja muito bonito), não está nada mal como o
poeta Kang Jeong-ho. Ele consegue ser o personagem mais equilibrado do filme. Adoro
os momentos em que ele lê seus poemas para os amigos, em busca de aprovação. E
o mais engraçado, Moon-gyeong e Joong-sik entram na onda e escrevem seus próprios
versos – com o único objetivo de impressionar as garotas.
Ao contrário de Woman on
the Beach, as mulheres deste filme, Yeon-joo (interpretada por Yeh Ji-won) e Seong-ok
(Moon So-ri) são muito mais interessantes e bem resolvidas. Não que elas não
tenham suas neuras, mas seu modo de encarar a vida está bem mais próximo do
senso comum feminino, e este é um dos pontos mais positivos do filme e que
mostra, talvez, um amadurecimento tardio do autor. Quem sabe ele, ao contrário
de seus personagens masculinos, esteja aprendendo a entender as mulheres.
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