O
genial diretor Kim Won-suk (Misaeng, Signal) volta à TV com outra produção
diferenciada, o drama existencialista My
Mister (My Ahjusshi). Como já
comentei em outro post, não sei como
ainda não convenceram este senhor a voltar-se para o cinema, - até lá, garantimos
nossos dramas no mais alto nível de qualidade. Aliás, seu próximo projeto, The Chronicles of Aseudal (tvN, 2019) já
é esperado com ansiedade pelos fãs da dupla de roteiristas de The Six Flying Dragons.
O
PD Kim e a roteirista Park Hae-Young (Oh Hae Young Again) nos brindam com o que talvez seja o melhor drama do ano, My Mister. My Mister aborda temas que sensibilizam em especial os habitantes
das metrópoles, - solidão, desemprego, pobreza, violência, são chagas que
afligem os personagens desta estória -, no entanto, mesmo na tragédia eles
encontram consolo e esperança, quando um estranho lhes estende a mão.
O
que torna atraente esta estória tão triste e ‘pesada’ é o olhar infinitamente
carinhoso da escritora sobre seus personagens. O drama nos mostra que a solidão,
embora comum a toda a humanidade, é um sentimento muito complexo, com
significados diferentes para cada pessoa e para cada momento de sua vida. Park
Dong-hoon (Lee Seong-kyeong, Miss Korea)
é um homem que sofre de uma solidão profunda e crônica, apesar de ser um
profissional bem sucedido, casado, e cercado do carinho de sua mãe e irmãos. Sua
condição provoca o afastamento da esposa, Kang Yoon-hee (Lee Ji-ah, Beethoven Virus, The Ghost Detective), advogada, mãe, que busca consolo nos braços
do amante, Do Joon-young (Kim Young-min). Do Joon-young, ex-colega de
universidade de Park Dong-hoon e agora seu superior na empresa de engenharia,
sofre de um complexo de inferioridade deprimente, que o leva a usar a amante
como uma reafirmação de sua masculinidade.
Sang-hoon
(Park Ho-san, Lawless Lawyer) e
Gi-hoon (Song Sae-byeok, Seven Years of
Night) são os irmãos de Park Dong-hoon, que após uma série de infortúnios
na vida, voltam a morar com a mãe, a dona-de-casa viúva Byeon Yo-soon (Ko
Du-shim). Entediados e desesperançados, Sang-hoon e Gi-hoon acompanham com
preocupação fanática os menores eventos cotidianos da vida do irmão, contribuindo
assim com os momentos mais enternecedores do drama. O primogênito Sang-hoon é um
sujeito sensível, emotivo, que não tem forças para superar a falência de seu
negócio, e o consequente fracasso do casamento. Gi-hoon (ex-diretor e
roteirista de cinema), por sua vez, é ainda mais lamentável, já que uma única
decepção profissional o deprimiu o bastante a ponto de fazê-lo se acomodar à
vida de solteirão desempregado. A reaparição da atriz Choi Yoo-ra (Nara, Your Honor), que Gi-hoon considera sua ‘nemesis’,
funciona como uma espécie de terapia de choque, que o obriga a repensar seu
destino.
Os
irmãos Park moram há anos no mesmo bairro, e, com os antigos e fiéis amigos de infância,
compartilham partidas de futebol, além de bebedeiras quase diárias. A dona do
boteco frequentado por eles é Jung-hee (Oh Na-ra, Judge vs Judge), que teve o coração partido por Gyum Duk (Park
hae-joon, Misaeng), que a trocou pela
vida celibatária de monge budista. Jung-hee não se conforma que Gyum Duk tenha
abdicado de seu amor, pela solidão eterna no alto de uma montanha. O irônico é
que ela, ao viver da memória deste amor, é a mais solitária dos dois.
Mas
tudo muda na vida destes personagens, com a chegada de uma garota misteriosa,
Lee Ji-an (IU, Moon Lovers: Scarlet Heart
Ryeo). A princípio Lee Ji-an parece uma pequena marginal, o que não deixa
de ser verdade, em parte, mas a estória que a levou até este ponto crítico é
tão traumática quanto comum no mundo cruel em que vivemos. Órfã, ela luta para
sustentar a si mesma e a avó surda-muda, enquanto é perseguida incansavelmente
por Lee Gwang-il (Jang Ki-yong, Come and
Hug Me), um agiota violento, estranhamente obsecado com a garota. Quando o
destino une Park Dong-hoon e Lee Ji-an, o casal reconhece um no outro aquela
solidão profundamente enraizada em suas almas, e que, milagrosamente, eles conseguem
transformar em reparação.