País:
Coréia do Sul
Gênero:
Fantasia
Duração:
16 episódios
Produção:
tvN
Direção:
Lee Eung-bok
Roteiro:
Kim Eun-sook
Elenco:
Gong Yoo, Kim Go-eun, Lee Dong-wook, Yoo In-na, Yook Sung-jae, Lee Il, Jo
Woo-jin, Kim Sung-kyum, Kim Min-jae, Kim So-hyeon, Kim Byung-chul.
Resumo
Goblin
é a estória fantástica de um corajoso general da era Goryeo que é amaldiçoado
com a imortalidade.
Comentário
Como
motivo de comemoração de seus 10 anos no ar, o canal tvN investiu em uma
produção luxuosa, o drama de fantasia Goblin:
The Lonely and Great God, criação da roteirista mais badalada do momento, Kim
Eun-sook. Depois do mega sucesso de público Descendants
of the Sun (2016), era enorme a expectativa sobre o próximo projeto da
escritora Kim. E, ao menos para a tvN, o resultado foi mais do que satisfatório
(com uma média final de 13,7 %, um número significativo para a TV à cabo).
Concluído o drama (e passada a comoção sobre o mesmo), podemos refletir com
calma sobre seus os pontos positivos e negativos.
Para
começar, foi uma surpresa agradável ver a autora voltar a um de seus temas
favoritos, a fantasia... Recordemos que seu primeiro sucesso foi o drama
romântico Lovers in Paris (2004), que
se revelou, no último instante, como um drama de fantasia (e com um dos finais
mais controvertidos da história dos dramas coreanos). Em seguida a escritora
Kim voltou ao “trivial” com o drama romântico/político The City Hall (2009), com uma trama linear, mas ao mesmo tempo mais
eficaz do que muitos de seus projetos seguintes, como Heirs (2013), ou Gentleman´s Dignity (2012). Antes destes dois últimos ela escreveu Secret Garden (2010), que lhe rendeu a fama de autora pop, graças à
influência e às recorrentes citações de seus diálogos e cenas divertidas (sendo
a mais citada, a do beijo na cafeteria, como esquecer?). O certo é que a
escritora Kim tem um talento especial para gerar burburinho com cenas marcantes
e originais, e com a escolha certeira do elenco em seus dramas românticos. Não
se sabe de algum ator ou atriz que tenha rejeitado um convite para estrelar um
drama assinado por Kim Eun-sook. Sendo assim, antes mesmo de sua estreia, Goblin já gerava manchetes com a notícia
da presença de Gong Yoo no drama. Quatro anos foi tempo demais para os fãs de
Gong Yoo, que aguardavam ansiosamente sua volta à TV.
Para
concretizar sua visão grandiosa de um drama meio épico, meio fantasia
romântica, a autora trouxe consigo o PD Lee Eung-bok (School 2013, Secret) seu
parceiro de sorte em Descendants of the
Sun. Se em Descendants of the Sun a
direção do PD Lee não me impressionou especialmente, em Goblin ele parece ter bebido uma poção especial, que o tornou um
diretor muito mais habilidoso. Aliás, a direção teve um papel crucial neste
drama, já que as imagens, na maior parte do tempo, tiveram um peso maior que as
palavras. Vale uma ressalva para o uso excessivo de imagens de banco de dados
(recurso preguiçoso e meio cafona) e a repetição “ad nauseum” de certas cenas.
Para ser mais específica, a cena crucial do enfrentamento do general Kim Shin
com o rei é repetida tantas vezes que acaba por perder o impacto inicial, sem
acrescentar nada à trama. Falando em edição, o drama perde muito em ritmo, do episódio
8 ao 12 (tendo provocado inclusive uma queda na audiência), e os longos
capítulos de 1h30 se arrastam, com uma trama que anda em círculos, apoiada
unicamente na atuação brilhante do elenco. Uma redução para 12 episódios
beneficiaria muito o drama.
Goblin é o drama que
restaurou minha fé no talento de Kim Eun-sook – apesar de todos os defeitos,
para mim, este é seu melhor drama desde Secret
Garden. Quem não gosta de dramas lentos e de enredo sem grandes
reviravoltas deve sentir-se frustrado, mas o elenco charmoso, a fotografia e a
cenografia tem poder o bastante para enganchar o espectador. Do episódio 13 ao
16 a estória volta a ficar interessante, e o desfecho é satisfatório (levando-se
em conta tropeços da escritora em dramas anteriores).
A
roteirista Kim tem uma criatividade e tanto para inserir um personagem da mitologia
nórdica (goblin) em um reino asiático distante, e criar uma estória original,
embora um tanto confusa... Sim, porque se você ainda não se aventurou no conto
de fadas pós-moderno que é Goblin,
não espere por grandes revelações sobre a origem dos personagens, já que eles
mesmos vivem alienados sobre seu propósito no mundo. São tantas perguntas sem
respostas... Por exemplo, por que o bravo general Kim Shin é punido pelos
deuses e transformado em um goblin (na mitologia nórdica, uma espécie de gnomo
maligno e ganancioso)? Será que ele merecia um destino tão cruel, pesadas as
circunstâncias da época? Por que o rei Wang Yeo não deu ouvidos à sua jovem
rainha, e ordenou sua morte e de sua família, mesmo sabendo que estava sendo traído
por seu mentor, Park Joong-hoon? Como o Goblin conseguiu acumular riquezas ao
longo de mais de 900 anos, fundar uma empresa (presidida pelo velho Yoo Shin) sem
saber usar um smartphone? Ah, certo, a situação gerou piadas divertidíssimas
entre o Goblin e seu amigo Anjo da Morte.
Apesar
de sempre me incomodar com problemas de edição, seja no cinema, ou em dramas, a
verdade é que não acho que o ritmo lento de Goblin
seja um grande problema, já que muitos dos momentos mais mágicos e românticos
do drama foram aqueles em que os personagens refletiam sobre as pequenas
alegrias da vida... Como quando o Goblin começa a se apaixonar por Ji Eun-tak,
e quer muito acreditar que a garota é sua noiva prometida, mas não sabe como
expressar seus sentimentos... Ou quando o Ceifador encontra-se pela primeira
vez com a bela Sunny, e seus olhos se enchem de lágrimas involuntárias... É
curioso quando os personagens (ou os atores que os interpretam) tornam-se maiores
do que a estória. É fácil perceber, pelos comentários gerados a cada episódio,
que o drama enganchou o público pelo grande charme do elenco, especialmente
Gong Yoo e Lee Dong-wook. Não é por nada que o ‘bromance’ entre a dupla gerou
mais frisson que o romance entre o Goblin e Eun-tak. Gong Yoo (Train to Busan, Coffe Prince, BIG) é
indiscutivelmente um grande ator e, melhor ainda, do tipo que sabe usar seu
charme para encantar seu par romântico, o que não foi diferente com Kim Go-eun,
que interpreta a jovem Ji Eun-tak. Mas, sou obrigada a reconhecer que não
consegui sentir aquela “faísca” entre o casal principal, apesar das atuações
convincentes de ambos. Kim Go-eun (Cheese
in the Trap, Canola, Eungyo) é uma atriz encantadora, mas,
não sei bem porque, não me convenceu no papel de Eun-tak. Talvez o problema
seja o personagem, e não a atriz... Eun-tak é uma cinderela moderna, que sonha
em entrar em uma boa universidade, e ter uma vida melhor. Ao cruzar com o
Goblin, ela conclui, pragmaticamente, que encontrou um bom patrocinador para
seus estudos. É interessante que ela não se apaixone imediatamente por este
homem bonito e maduro, embora, mais adiante, entendamos que sua percepção sobre
ele era muito mais profunda. É chato admitir, mas Eun-tak é o personagem mais
importante, mas ao mesmo tempo o que menos me agradou no drama. O perfil
adolescente de Eun-tak (o sorriso ingênuo, a voz infantil) não parece se encaixar
com o passado do personagem, com todo o sofrimento que ela carrega consigo. Entendo
que Eun-tak tenha conseguido conquistar o Goblin com esta alegria juvenil, mas
eu teria preferido uma heroína mais madura, com um humor mais ácido.
Se
o romance entre o ‘Dokkaebi’ e Eun-tak não me convenceu, a estória de amor de Lee
Dong-wook (o anjo da morte) e Yoo In-na (a bela e solitária Sunny) é
(literalmente) épica! Impossível não sofrer junto com este casal, e seu amor
impossível... Parece que Lee Dong-wook (Scent of a Woman, Bubblegum) solicitou
pessoalmente à escritora Kim a chance de interpretar o mensageiro da morte. Sou
uma grande admiradora do ator, especialmente por sua vontade em buscar novos
desafios, sem apegar-se a estereótipos, e não se acomodar em papeis de galã. A
verdade é que Lee Dong-wook rouba a cena, por sua entrega total ao papel, e
também porque a estória do personagem é tão mais rica e complexa que a do
Goblin. Mas, surpresa mesmo fiquei com bela atuação de Yoo In-na (Queen In-hyun´s Man, My Secret Hotel, One More Happy Ending), sensível, discreta, na medida certa para a
importância do papel. Confesso que já
havia abandonado a esperança de ver Yoo In-na como mais do que uma celebridade supervalorizada.
Tenho muita curiosidade sobre o milagre operado sobre sua capacidade de
atuação: será que foi a influência do elenco competente (seu encantamento na
presença de Lee Dong-wook é óbvio), a orientação do diretor, ou simplesmente o
efeito natural da maturidade? Seja como for, espero que este tenha sido o primeiro
de novos e grandes papeis para a charmosa Yoo In-na.
Falando
em bons atores, não posso deixar de mencionar o maravilhoso elenco jovem. Yook
Sung-jae, de quem sou fã desde Who are
You: School 2015 esbanja charme e fofura no papel de Yoo Duk-hwa. E o casal
real Kim Min-jae (Romantic Doctor, Teacher Kim) e Kim So-hyeon (Let´s
Fight Ghost, Page Turner, Who Are You: School 2015) deixa sua
marca, apesar da aparição relâmpago. Acho Kim So-hyeon uma grande atriz, e
fiquei imaginando se ela não seria mais adequada para o papel de Eun-tak...
Concluído
este belo drama de Kim Eun-sook fico muito curiosa sobre seu próximo projeto, e
espero que ela tome seu tempo para nos trazer mais uma estória tão mágica e
surpreendente quanto a saga de Goblin.