dezembro 01, 2016

Melhores Dramas Coreanos de 2016 (Parte 2)




Como eu havia comentado na Parte 1 da lista de melhores dramas do segundo semestre de 2016, os dramas épicos/fantasia Scarlet Hear Ryo e Moonlight Drawn By Clouds foram os que despertaram a maior atenção do público. Mas, felizmente, o segundo semestre também nos presenteou com ótimos dramas, para fechar com chave de ouro um ano que não vai deixar saudades em outros setores de nossas vidas. Romantic Doctor Teacher Kim foi o drama médico que faltava, com a presença de luxo do ator Han Seok-kyu... Weightlifting Fairy Kim Bok-joo é um drama juvenil divertido e sensível, graças ao texto inteligente da roteirista Yang Hee-seong. Nem deu tempo de mencionar as últimas estreias – Legend of the Blue Sea, Night Light e Goblin – comentarei sobre estes dramas, especialmente o visualmente deslumbrante Goblin, e a volta tão aguardada de Gong Yoo, mais adiante...

Age of Youth (jTBC, 12 episódios)

Sempre me pergunto por que os dramas escolares são tão comuns, e os dramas universitários tão raros... Só este já é um ótimo motivo para conferir o drama Age of Youth, que traz uma visão muito delicada e feminina de uma das etapas mais importantes de nossas vidas, a formação universitária, e os primeiros passos para a vida adulta. A roteirista Park Yeon-seon tem em seu currículo títulos muito interessantes, tanto no cinema (My Tutor Friend, White Night), quanto na TV (White Christmas, Alone in Love). O PD Lee Tae-gon (My Love Eun-dong, Queen Insoo) tem um estilo tradicional de dirigir, mas acerta a mão na condução do elenco jovem de Age of Youth.

Age of Youth conta a estória de um grupo de estudantes que compartilha um apartamento, sob a tutela rígida da proprietária do prédio. Yoo Eun-jae (Park Hye-soo, de Yong Pa, Introvert Boss) é a nova moradora da residência estudantil, vinda do interior, para cursar o primeiro semestre de psicologia. Ingênua demais para sua idade, e terrivelmente tímida, Eun-jae é muito mal recebida pelas colegas de quarto, que, por outro lado, já vinham num clima beligerante diário. Na universidade, Eun-jae também não tem uma vida fácil, pois se sente intimidada pelo colega Yoon Jong-yeol (Shin Hyun-soo).


Jeong Ye-eun (Han Seung-Yeon, Her Lovely Heels, membro do grupo pop Kara) é a ‘patricinha’ do grupo, mais interessada em moda, e obcecada pelo namorado, Ko Doo-yeong (Ji Il-joo, de Weightlifting Fairy Kim Bok-joo). Yoon Jin-myeong (Han Ye-ri, Six Flying Dragons, As One), pouco é vista em casa, pois, quando não está na faculdade, faz um rodízio cansativo entre uma série de empregos temporários. Sem apoio financeiro dos pais, ela se esforça para pagar a mensalidade do curso, e o tratamento médico do irmão. Trabalhando como garçonete num restaurante francês ela conhece o chef Park Jae-wan (Yoon Park, de This is Family).

Song Ji-won (Park Eun-bin, Operation Porposal) é a mais festeira da turma, mas não consegue arrumar namorado. Ji-won sonha em ser uma grande escritora, enquanto inferniza a vida do colega de Jornalismo, Im Seong-won (Son Seung-won, de I Remember You). Por fim, temos Kang I-na (Ryu Hwa-young - Ex-Girfriends´ Club -, ex-membro do grupo pop T-ara -, irmã gêmea de Ryoo Hyo-yeong (Golden Pouch)). Ninguém conhece bem a bela Kang I-na, que tem um estilo de vida muito diferente de qualquer estudante, usando roupas e acessórios de marca, e frequentando bons restaurantes. Em um dos bares exclusivos que frequenta, I-na conhece o misterioso Oh Jong-gyoo (Choi Deok-moon), que tem um interesse suspeito sobre seu passado.

Age of Youth chamou muito a atenção do público que gosta de estórias originais, e temas diferenciados, e realmente, é uma das melhores surpresas do ano. Mas nem por isso o drama é isento de falhas, especialmente ao aumentar e exagerar no desenvolvimento das tramas pessoais dos personagens. Os conflitos emocionais, seja entre colegas, namorados, ou com a família, somados aos dilemas profissionais seriam o bastante para retratar a estória dessas estudantes, mas a roteirista enveredou por uma trama sombria, que foge demais do clima inicial do drama. No final, me contento com reflexão intimista desta fase bonita, embora às vezes agridoce, da vida.


The Man Living in Our House (KBS2, 16 episódios)

The Man Living in Our House (ou Sweet Stranger and Me) é um drama romântico baseado no webtoon de Yoo Hyeon-sook, e adaptado pela roteirista Kim Eun-jeong (Flower Boy Next Door, Gabi, Il Mare). O diretor é Kim Jeong-min (The Joseon Gunman, Bad Guys).

Soo Ae (Mask, 9 End 2 Outs) é Hang Na-ri, uma comissária de bordo que está em um momento feliz da vida, prestes a se casar com Jo Dong-jin (Kim Ji-hoon-I, de Flower Boy Next Door), seu namorado a quase dez anos. Mas, subitamente, chega a notícia triste da morte da mãe de Na-ri, Shin Jeong-im (Kim Mi-sook, The Flower in Prision) em um acidente de carro. Ao voltar para a casa da mãe, no interior, Na-ri tem mais uma surpresa chocante, a presença de um estranho no local. Ko Nan-gil (Kim Yeong-kwang, D-Day, Plus Nine Boys) afirma ser o novo dono da propriedade da mãe de Na-ri, incluindo o restaurante, onde ele agora trabalha como chef. Atordoada com a situação, Na-ri contrata o advogado Kwon Deok-bong (Lee Soo-hyeok, Lucky Romance) para ajudá-la a resolver a situação. Só que Deok-bong também tem interesse em adquirir a propriedade, a qualquer preço.

Ainda bem que The Man Living in Our House é um drama curto, pois, infelizmente, o roteiro é frágil demais para sustentar o prolongamento da trama. A estória em si é muito interessante, com segredos que vão sendo revelados aos poucos, bem como as verdadeiras intenções dos personagens. O problema é a fragilidade dos personagens secundários (que já são poucos), que poderiam ter recebido uma atenção maior por parte da roteirista e do PD. Mais uma vez Lee Soo-hyeok cai na armadilha de aceitar um papel que não chega aos pés de sua reconhecida capacidade como ator. Mesmo assim, ele consegue ir além do texto, ao imprimir humor e charme ao personagem, conseguindo ao menos preservar seu orgulho como ator. Como coadjuvante, Jo Bo-ah (Monster) também agrada muito, com o tom cômico dado ao personagem Do Yeo-joo, colega e rival de Na-ri.

É uma grande alegria ver Soo Ae de volta, depois de tantos anos, a um papel mais leve, embora eu tivesse preferido vê-la em uma comédia romântica pura, ao invés de um drama que tem mais pitadas de suspense do que romance. Mas não dá para reclamar de seu par romântico com Kim Yeong-kwang, simplesmente encantador, em toda sua ternura e cumplicidade.


My Wife is Having an Affair this Week (jTBC, 12 episódios)

Remake do drama japonês Konshu Tsuma ga Uwaki Shimasu (Fuji TV, 2007), adaptado por Lee Nam-gyoo (Awl, Detective K) e dois outros roteiristas novatos, Kim Hyo-sin e Lee Ye-rim-I. O PD é Kim Seok-yoon, que tem uma longa parceria com o roteirista Lee Nam-gyoo no cinema, com a franquia Detective K, e na TV, com o drama Awl, um libelo dos direitos trabalhistas coreanos.

Este ano o canal jTBC surpreendeu o público com a qualidade e originalidade de suas produções, superando até mesmo a badalada tvN. My Wife is Having an Affair this Week lembra um pouco o drama The Producers (KBS2), ao abordar com realismo e irreverência a rotina da produção de um programa de TV. Mas o foco central do drama são as alegrias e (principalmente) as agruras do casamento. Com humor ácido, e sem fazer concessões, o drama disseca uma relação em crise, a partir do momento em que um dos cônjuges comete adultério. Lee Seon-gyoon (Miss Korea, Golden Time), é o produtor de TV Do Hyeon-woo, casado, pai de um menino de seis anos. Song Ji-hyo (Ex-Girlfriends´ Club, Princess Hours) é a executiva Jeong Soo-yeon, mãe de Joon-soo (Kim Kang-hoon, de Pride and Prejudice), casada com Hyeon-woo. Para quem vê de fora, Soo-yeon e Hyeon-woo parecem ser um casal feliz e harmonioso, mas a rotina exaustiva e a consequente falta de diálogo começam a minar sua relação. Até que acontece uma suposta traição... Apesar do ponto de vista masculino da estória, há uma reflexão muito pertinente sobre o papel da mulher na sociedade moderna... A rotina de Soo-yeon não é diferente de qualquer mulher, que tenta equilibrar a carreira profissional com o casamento... Mas a recompensa por tanto esforço nunca é vista, exceto pelo respeito dos subordinados, ou os comentários invejosos das mães dos coleguinhas do filho, que acham que sua vida é perfeita. Hyeon-woo pensa ser um ótimo marido, apenas por realizar tarefas banais como tirar o lixo, ou levar o filho para a escola. Quando a possibilidade de perder a mulher torna-se real, ele simplesmente surta!

Lee Sang-yeob (Master – God of Noodles, Signal) é o PD Ahn Joon-yeong, colega e melhor amigo de Hyeon-woo. Casado há três anos, fica ridiculamente perturbado com os problemas conjugais do amigo. Lee Sang-yeob simplesmente rouba a cena, com suas cenas de choro, bebedeira e obsessão pela colega Kwon Bo-yeong (BoA, cantora). Aliás, Lee Sang-yeob e BoA (em sua primeira atuação convincente) formam um casal fantástico, tão neurótico quanto os típicos casais dos filmes de Woody Allen.

O terceiro casal é formado pelo advogado Choi Yoon-gi (Kim Hee-won, de Awl, Collective Invention) e a dona-de-casa Eun Ah-ra (Ye Ji-won, de Oh Hae-young Again). Eun Ah-ra, filha de um rico empresário, trata o marido como um príncipe, mas desconfia, e com razão, de estar sendo traída. Yoon-gi, apesar de dever sua carreira e a vida luxuosa à esposa, a trai sem qualquer culpa ou remorso. Ele se acha um Don Juan, usando todas as técnicas possíveis e imagináveis para seduzir as mulheres bonitas que cruzam seu caminho. Apesar da canalhice do personagem, Choi Yoon-gi não se constrange, e mergulha no papel sem nenhum pudor, protagonizando cenas tão constrangedoras quanto engraçadas. E o papel de mulher superficialmente frágil, mas prestes a explodir, serve como uma luva para a fantástica atriz Ye Ji-won.


Weightlifting Fairy Kim Bok-joo (MBC, 16 episódios)

As roteiristas Yang Hee-seong (Oh My Ghostess, King of High School of Manners) e Kim Soo-jin-III (My Only Love Song) inspiraram-se na vida da atleta de levantamento de peso Jang Mi-Ran, para criar uma estória tão adorável, que mais parece uma fábula, Weightlifting Fairy Kim Bok-joo. A direção, também preciosa, está a cargo do PD Oh Hyeon-jong (A New Leaf).

Lee Seong-kyeong (Doctors) é a jovem levantadora de pesos Kim Bok-joo, cujo único sonho é ser uma grande campeã. Ela reside no campus universitário, onde se dedica exclusivamente aos exaustivos treinamentos diários. Sua única diversão consiste em sair para comer (muito!) e beber com as colegas atletas, Seon-ok (Lee Joo-hyeong-II,- A Quiet Dream), e Jeong Nan-hee (Jo Hye-jeong,- Cinderella and Four Knights). Sua rotina é tranquila, exceto pelas rusgas com as vizinhas de dormitório, as garotas da equipe de ginástica rítmica. Como toda garota de sua idade, Kim Bok-joo gostaria de se apaixonar, mas o cara ideal ainda está para surgir em sua vida... E não parece ser o nadador Jeong Joon-hyeong (Nam Joo-hyeok -, Moon Lovers: Scarlet Heart Ryeo, Who Are You: School 2015), apesar de todas as suas qualidades: beleza, talento, simpatia... Acontece que Joon-hyeong, um amigo de infância, ainda guarda a lembrança de uma Bok-joo gordinha e sapeca, e sente prazer em provocar a garota com piadas inconvenientes, mesmo que sua intenção não seja a de magoá-la. Mas o coração de Bok-joo irá bater mais forte ao conhecer o Dr. Jeong Jae-i (Lee Jae-yoon-I,- Heartless City, Oh Hae-young Again), irmão mais velho de Joon-hyeong.

Kyeong Soo-jin (Plus Nine Boys) é a ginasta Song Si-ho, ex-namorada de Joon-hyeong, que volta ao campus depois de uma tentativa fracassada de entrar para o time olímpico de seu esporte. Song Si-ho, além de perder espaço para as atletas mais jovens, não tem recursos financeiros para preparar-se adequadamente para as competições. Deprimida, ela tenta reatar o namoro com Joon-hyeong.

O drama, além de atores jovens muito talentosos, tem um elenco adulto de luxo... Choi Moo-seong (Answer Me 1988) é o treinador Yoon Deok-man, e Jang Young-nam (A Werewolf Boy) é sua assistente, Choi Seong-eun. Na família de Bok-joo temos Ahn Kil-kang (Chuno), como o pai, Kim Chang-geol, e Kang Ki-yeong (Let´s Fight Ghost), como o jovem tio Kim Dae-ho.

É admirável o tratamento carinhoso dado a Kim Bok-joo, uma protagonista que foge totalmente dos padrões de beleza e de caráter da maioria das heroínas retratadas nos dramas coreanos. Palmas para a atriz Lee Seong-kyeong, que se despe de qualquer vaidade para retratar Kim Bok-joo, uma garota de braços tão fortes, e de coração tão doce.


Romantic Doctor Teacher Kim (SBS, 20 episódios)

A roteirista Kang Eun-kyeong (Hotelier, Dalja´s Spring, Bread, Love and Dreams, This Is Family), que acumula uma lista considerável de dramas de sucesso, junta-se a um diretor de peso, o PD Yo In-sik (Bad Family, Giant, Mrs. Cop) em um belo drama médico, Romantic Doctor Teacher Kim.

O grande ator Han Seok-kyu (The Berlin File, Eye for an Eye, Deep-rooted Tree) é o Dr. Bu Yong-joo, um médico brilhante, mas de temperamento indomável. Ele é um cirurgião de prestígio, a grande estrela do Hospital Geosan, em Seul. No entanto, ele acaba sendo alvo de uma conspiração de colegas do hospital, ao ser injustamente acusado de cometer um erro médico, e matar uma paciente durante uma cirurgia de emergência. Difamado, e desempregado, Bu Yong-joo passa a se apresentar como Dr. Prof. Kim, e vai clinicar em um pequeno hospital do interior.

Yoo Yeon-seok (Mood of the Day, Love, Lies) é o Dr. Kang Dong-joo, um jovem que teria um futuro brilhante como cirurgião, se não fosse pela traição (muito semelhante ao que aconteceu anos atrás com o Dr. Kim) arquitetada pelo diretor do Hospital Geosan, Do Yoon-wan (Choi Ji-ho-I, Oh My Venus, Mrs. Cop 2). Para dar espaço ao filho do diretor, também cirurgião, Do In-beom (Yang Se-jong,- Saimdang, the Herstory), Yoo Yeon-seok é transferido para uma filial no interior. Chegando ao Hospital Doldam, ele reencontra uma colega do Hospital Geosan, que estava desaparecida há cinco anos, a Dra. Yoo Seo-jeong (Seo Hyeon-jin,- Oh Hae-young Again). O modesto hospital é administrado pelo simpático Yeo Woon-yeong (Kim Hong-pa), que dá carta branca para o Dr. Kim tomar todas as decisões médicas importantes. A enfermeira chefe Oh Myeong-sim (Jin Kyeong,- It´s Ok, This is Love), o gerente Jang Ji-tae (Im Won-hee (Dachimawa Lee) e o anestesista Nam Do-il (Byeon Woo-min) fazem parte da equipe fiel do excêntrico Dr. Kim. Os personagens deste drama são quase heróis, em termos profissionais, mas a nível pessoal, são criaturas repletas de contradições, neuroses e frustrações. É um desafio, mas ao mesmo tempo é instigante acompanhar a evolução de personagens tão complexos quanto carismáticos.

Romantic Doctor Teacher Kim é um drama médico por excelência, com um tempero extra de romance e comédia, - mas o que fica claro é a reflexão sobre ética profissional, e a importância de uma sociedade justa oferecer assistência médica digna ao cidadão comum.

novembro 24, 2016

Incarnation of Jealousy (drama, 2016)




País: Coréia do Sul
Gênero: Comédia, Romance, Drama
Duração: 24 episódios
Produção: SBS

Direção: Park Shin-woo
Roteiro: Seo Sook-hyang

Elenco: Jo Jeong-seok, Kong Hyo-jin, Ko Kyeong-pyo, Lee Seong-jae, Lee Mi-sook, Park Ji-young, Seo Ji-hye, Kwon Hae-hyo, Kim Jung-hyun, Moon Ga-yeong, Jeong Sang-hoon, Kim Ye-won, Park Hwan-hee, Choi Hwa-jeong, Yoon Da-hoon.

Resumo

Pyo Na-ri é a garota do tempo que sofre por um amor não correspondido pelo repórter Lee Hwa-sin. Quando Hwa-sin volta ao país, depois de uma temporada como correspondente estrangeiro, descobre que seu melhor amigo, Ko Jeong-won, apaixonou-se por Na-ri.

Comentário (com muitos spoilers!)

Minha relação com Incarnation of Jealousy foi tão neurótica quanto de Hwa-sin e Na-ri – inicialmente, um sentimento de enfado e desprezo, uma pausa para tentar esquecer o caso, o retorno ao lar, uma curiosidade crescente, até a triunfante descoberta do amor! O prólogo confuso, com um excesso de personagens e subenredos, quase arruína o drama. Incarnation of Jealousy nunca estará no meu top 10 de dramas, mas certas cenas e episódios certamente podem ser classificados como memoráveis.

Seo Sook-hyang é roteirista de dois dramas fantásticos - The Lawyers of The Great Republic Korea, e Miss Korea – e uma grande decepção – o drama Pasta, que ainda assim ficou famoso pelo casal protagonista, Kong Hyo-jin e Lee Seon-kyeon. Como em Miss Korea, a roteirista consegue manipular muito bem um grupo variado e interessante de personagens secundários. O problema é que em Incarnation of Jealousy ela exagerou, e muito, na quantidade e, consequentemente, quase perdeu o controle da trama. É de estranhar-se que o PD Park Shin-woo (Ghost, Angel Eyes), e a própria emissora não tenham intervindo neste aspecto, já que uma redução no número de personagens ajudaria até mesmo na economia da produção – mas como estamos falando de uma grande (e muitas vezes caótica) emissora de TV, os excessos frequentemente são tolerados (quem não se lembra de desastres luxuosos como Doctor Stranger?).

Apesar de não aprovar resenhas com spoilers, vou abrir uma exceção com este drama, para tentar atingir o espectador que, como eu, ficou perplexo e insatisfeito com o início da trama. A roteirista teria sido muito mais feliz se, no primeiro episódio, optasse por apresentar os personagens principais, e só mais adiante, os secundários. A primeira impressão sobre o casal protagonista não poderia ser pior: Pyo Na-ri parece ser uma garota tola e inconveniente, e Lee Hwa-sin, um repórter medíocre e um misógino. Não temos a menor pista da relação entre os dois, e, por isso, é constrangedor ver Na-ri perseguindo Hwa-sin como uma fã obcecada, e ele a tratando com igual desrespeito. O mesmo se repete com os personagens secundários, descritos como um bando de neuróticos fora de controle. Seria muito mais fácil enganchar o púbico com algumas pistas sobre as verdadeiras motivações dos personagens. Pyo Na-ri (Kong Hyo-jin, de It´s Ok, This is Love) é uma jovem órfã, que batalha muito para sustentar o irmão adolescente, Chi-yeol (Kim Jung-hyun). Ela é contratada como apresentadora do tempo em uma grande rede de TV. É um cargo mal pago, e pouco valorizado. Mesmo assim, Na-ri, otimista por natureza, sonha em um dia conseguir uma promoção à âncora de notícias. Na-ri se apaixona loucamente pelo repórter estrela do canal, Lee Hwa-sin (Jo Jeong-seok, de Oh My Ghostess). Vaidoso, Hwa-sin não tem o mínimo interesse em envolver-se com uma mera garota do tempo. A paixonite de Na-ri é cortada pela raiz quando Hwa-sin é transferido para a Tailândia, como correspondente estrangeiro. Para descobrir todos estes fatos relevantes sobre o casal protagonista o espectador terá de munir-se de paciência por muitos episódios – finalmente, é um alívio ver que eles não são más pessoas, apenas dois jovens imaturos, embora, a bem da verdade, meio ‘sem noção’!

Pyo Na-ri reencontra seu primeiro amor numa missão à Tailândia, mas no caminho conhece um homem muito interessante, o empresário Ko Jeong-won (Ko Kyeong-pyo, de Answer Me 1988). Jovem, alto, e muito rico, Jeong-won é o oposto de seu amigo de juventude, Lee Hwa-sin. Jeong-won sente-se atraído pela personalidade espontânea e calorosa de Na-ri. Na-ri, por sua vez, fica envaidecida e animada com as atenções do jovem milionário sobre ela. Enquanto isso, Hwa-sin decide voltar à Seul, para concorrer a uma vaga de âncora de notícias. Incomodado com o flerte entre seu melhor amigo e Na-ri, Hwa-sin começa a questionar seus sentimentos sobre ela. E, infelizmente, descobre que o assédio de Na-ri, que ficava tocando seu peito cada vez que o encontrava, tinha seus motivos. A mãe e a avó de Na-ri morreram de câncer de mama, e por isso, a jovem preocupa-se, com razão, com a possibilidade de também vir a sofrer da doença. Ao tocar no peito de Hwa-sin, ela percebe um pequeno caroço estranho, e incomoda o repórter, até convencê-lo a fazer um exame preventivo. Quando o resultado é positivo, Na-ri transforma-se no único apoio de Hwa-sin no tratamento da doença. Apesar do tema dramático, neste ponto o drama lida com a situação de fora muito delicada, e surpreendentemente cômica. O alerta especial aos homens é raro, e muito bem vindo!

Passado o espanto e a dor de cabeça com a profusão de personagens secundários, os subenredos vão se acomodando, e vamos conhecendo melhor e nos envolvendo com cada um deles. Alguns personagens são tão encantadores, que nos ressentimos por eles acabarem meio esquecidos, pela falta de tempo e espaço para que suas estórias sejam contadas. A princípio achei que 24 episódios eram um exagero, mas, no final das contas, para desenvolver com generosidade todas as microestórias, o drama poderia tranquilamente ter 50 capítulos. Estou certa de que muita gente gostaria de saber mais sobre a relação de amizade (e o triângulo amoroso) entre Lee Pal-gang (Moon Ga-yeong), filha de Seong-sook, e sobrinha de Hwa-sin, e seus colegas, Oh Dae-goo (An Woo-yeon), e Pyo Chi-yeol (o ator revelação Kim Jung-hyun).

As atrizes veteranas e charmosas, Lee Mi-sook (Miss Korea) e Park Ji-young (Scarlet Heart Ryeo), roubam a cena, e quase mereciam um spin off do drama, como as ex-esposas de Lee Joong-sin (participação especial de Yoon Da-hoon), irmão de Hwa-sin. A princípio arqui-inimigas, e mais tarde grandes companheiras, as jornalistas Gye Seong-sook e Bang Ja-yeong são de longe a melhor surpresa do drama. Seu triângulo amoroso com o cozinheiro Kim Rak (Lee Seong-jae), e suas birras com o chefe Oh Jong-hwan (o sempre simpático Kwon Hae-hyo) são impagáveis, embora nem sempre seja um mérito que personagens secundários tirem o foco dos protagonistas.

Mas a lista não acaba por aqui, pois há muitos outros personagens secundários, que, por incrível, que pareça, tem espaço o bastante para serem lembrados, como a bela jornalista Hong Hye-won (Seo Ji-hye), o PD Choi Dong-gi (Jeong Sang-hoon), as colegas de Na-ri, Na Joo-hee (Kim Ye-won) e Geum Soo-jeong (Park Hwan-hee), Kim Tae-ra (Choi Hwa-jeong), a mãe de Jeong-won, ou ainda a divertida médica Geum Seok-ho (Bae Hye-seon).

E que ainda assim sobre tempo para curtir o intenso romance de Na-ri e Hwa-sin, é um verdadeiro milagre. A atriz Kong Hyo-jin encontrou na calorosa Na-ri, seu papel mais encantador até o momento, e na parceria com Jo Jeong-seok, o melhor e mais sensual par romântico. Jo Jeong-seok por sua vez, aproveitou para demonstrar todas as suas habilidades como ator -, do canto, à dança, - da comédia de pastelão, à tragédia pura. Foi como ver uma maratona de atuação, estrelada por Jo Jeong-seok, na qual ele foi o único participante, e o grande vencedor.
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