País:
Coréia do Sul
Gênero:
DramaDuração: 20 episódios
Produção: tvN
Direção:
Kim Won-suk
Roteiro:
Jung Yoon-jung, baseado no webtoon de Yoon Tae-ho
Elenco:
Lee Sung-min, Im Siwan, Kang So-ra, Kang Ha-neul, Byun Yo-han, Kim Dae-myung,
Shin Eun-joong, Park Hae-joon.
Resumo
O
único sonho de Jang Geu-rae era tornar-se campeão de Go, um tradicional jogo de
tabuleiro asiático. Ele passou a infância e boa parte da juventude dedicando-se
exclusivamente ao jogo. No entanto, com a morte do pai, Geu-rae teve de
trabalhar para ajudar a sustentar a si mesmo e à mãe. Os anos se passaram, e agora
Geu-rae é um rapaz sem educação formal, pulando de um emprego temporário para o
outro... Até o dia em que oferecem a ele um estágio em uma grande empresa de comércio
exterior. Pela primeira vez, Geu-rae sente que pode dar um novo sentido à sua
vida, mas ele terá de lutar muito para alcançar este novo sonho.
Comentário
Jung
Yoon-jung é uma excelente roteirista (Arang
and the Magistrate, Chosun Police
Season 2), mas também teve muita sorte por ter em suas mãos uma obra
brilhante para adaptar. Não deve ter sido um trabalhado muito árduo o de dar
vida aos personagens encantadores do webtoon Misaeng, de Yoon Tae-ho. É com grande sensibilidade e honestidade
que Yoon Tae-ho retrata o dia-a-dia dos funcionários de uma grande corporação
capitalista, a One International. Um grupo de jovens recrutados nas melhores
universidades do país disputa um emprego nesta empresa de trading, que faz negócios por todo o globo. Os requisitos mínimos
para conseguir uma vaga na One International, além de ter estudado em uma
universidade de elite, é falar várias línguas com fluência, e ter especialização
em sua área de atuação. É neste ambiente de competição feroz que aterriza nosso
pequeno herói, Jang Geu-rae, sem diploma algum no currículo, e hostilizado
pelos colegas por ter conseguido uma vaga como trainee graças à indicação de um diretor da empresa. A sorte de
Geu-rae é entrar na a equipe do gerente Oh Sang-sik, um homem obstinado pelo
trabalho, fiel aos seus princípios éticos, e que irá ensinar o caminho das
pedras ao jovem aprendiz.
Misaeng tinha tudo
para ser um drama árido, tanto pelo tema, como pelo ambiente asséptico dos
escritórios de uma empresa de comércio exterior. Mas, surpreendentemente, uma
combinação perfeita de elementos contribui para compor um dos dramas mais
inteligentes e sensíveis dos últimos tempos. Para começar, a rotina dentro dos
escritórios da One International é tudo menos entediante... As muitas metas a
serem atingidas nas transações comerciais, a rivalidade entre as equipes de
compra e venda de produtos de exportação e importação, a disputa interna por
promoções nos cargos, tudo isso torna o ambiente muitas vezes fervilhante, e
outras simplesmente exaustivos para os pobres funcionários da companhia. É
irônico que cifras milionárias sejam negociadas diariamente por gerentes e
subordinados, e que trabalham arduamente por um salário medíocre. Estes homens
fardados de terno e gravata são os soldados que se sacrificam na linha de
frente, enquanto suas empresas lucram bilhões de dólares ao ano.
O
diretor Kim Won-suk (Monstar, Sungkyunkwan Scandal) realiza um
trabalho simplesmente perfeito, tanto na condução do imenso, mas impecável,
elenco (um verdadeiro exército de atores brilhantes), como na fotografia – é incrível
com o diretor de fotografia consegue dar cor e textura ao ambiente supostamente
monocromático e desagradável das luzes artificiais de um escritório. A trilha
sonora, para arrematar, ressalta os momentos sensíveis da estória, mas sempre com
muita elegância. Aliás, Siwan pôde compartilhar seu talento como compositor e
cantor em uma das faixas do OST.
Jang
Geu-rae (Siwan) sente-se como um peixe fora d´água, um alienígena visitando um
planeta desconhecido. Mas, aos poucos, ele vai aprender a viver como um membro
produtivo da sociedade e, principalmente, irá deixar sua marca neste mundo. O
gerente Oh Sang-sik (Lee Sung-Min), a princípio fica contrariado em acolher
Geu-rae em sua equipe, mas não demora a perceber o potencial do rapaz. O
subgerente Kim Dong-sik (o simpático Kim Dae-myung), com seu grande coração, torna-se
amigo e protetor de Geu-rae. Assim, o jovem aprendiz começa a ter esperanças de
um futuro melhor, orientado pelo chefe Oh e apoiado pelos colegas estagiários.
Mas
enquanto Geu-rae luta para dar os primeiros passos no mundo corporativo, seus
colegas, Young-yi, Baek-ki e Suk-yool, apesar de seus currículos acadêmicos impecáveis,
sofrem com as cobranças e ameaças constantes de seus respectivos chefes. Na Young-yi
(Kang So-ra) é uma jovem brilhante, fluente em inglês e russo, vinda de um
estágio anterior em uma empresa concorrente. Só que as coisas não são nada
fáceis para Young-yi, sendo a única funcionária mulher da equipe, e sofrendo de
assédio moral e ataques machistas constantes de seus superiores. Eles
claramente se ressentem em trabalhar com uma mulher inteligente e talentosa. Para
quem conhece Kang So-ra como uma sedutora cantora pop, ou mesmo como uma atriz
iniciante (Doctor Stranger), certamente
se surpreenderá com sua transformação no papel de Young-yi. Em uma entrevista
recente, a atriz não pôde conter as lágrimas ao admitir o quão importante este
personagem foi para sua carreira. Ela afirmou (um tanto dramaticamente) que não
acredita que um projeto tão incrível volte a surgir em sua vida. Com um talento
já comprovado, certamente outros dramas e filmes interessantes virão para a
bela So-ra, mas posso imaginar como ela deve se sentir, por ter tido a
oportunidade de fazer parte deste belo drama.
Kang
Ha-neul (Heirs) é Jang Baek-ki, um
jovem que entra na One International amparado em sua carreira acadêmica
brilhante, certo de que irá impressionar, com pouco esforço, seus superiores.
Só que a realidade é bem outra, e Baek-ki-shi irá aprender que não basta ser um
garoto estudioso para ter sucesso na empresa. Criatividade, experiência e
ousadia são qualidades que faltam ao inteligente, mas ingênuo Jang Baek-ki. Ele
se ressente ao perceber que seus colegas Geu-rae, Young-yi e Suk-yool são
infinitamente superiores nestes quesitos. Especialmente Geu-rae, que surpreende
a todos com sua perspicácia nos negócios e acaba se destacando mais que os
colegas mais estudados.
Han
Suk-yool (Byun Yo-han) se diferencia dos demais por sua experiência de campo. Seu
trabalho no “chão de fábrica”, como se diz, é sua melhor qualidade. Fora isso,
sua imaturidade, caráter extrovertido e pavio-curto mais atrapalham do que
ajudam em sua carreira. Por outro lado, seu espírito livre e carinhoso o torna
o amálgama que une o pequeno grupo de estagiários, transformando-os em amigos
para toda a vida. É interessante que, com tantos atores bons no elenco, Byun
Yo-han se destaque tanto com sua atuação verdadeiramente explosiva (ele vem de
uma carreira no cinema, que inclui filmes como No Tears for the Dead, e Cold
Eyes). Um ator cuja carreira deve ser acompanhada de perto...
Bem,
apesar de Byun Yo-han quase ter roubado a cena, não dá para negar que a dupla
formada pelo veterano Lee Sung-Min e pelo (quase) novato Im Siwan (Triangle) é a cereja do bolo deste
drama. Toda vez que assisto um drama com Lee Sung-Min agradeço aos céus por ele
continuar a dividir sua extensa e bem sucedida carreira de ator de cinema, com
o trabalho na TV. É impressionante, mas este ator consegue fazer qualquer papel
a que se propõe: de gangster (Miss Korea)
a médico (Golden Time, Brain), de rei (King 2 Heart) a guerreiro de eras passadas (Kundo)... E mais uma vez ele nos emociona absurdamente com a
delicadeza com que compõe este personagem, o chefe Oh Sang-Sik, que não deve
ser mais um personagem, mas uma pessoa de carne e osso, que anda livre pelo
mundo (ao menos é no que eu gostaria de acreditar).
No
mesmo tom emotivo da colega Kang So-ra, Siwan (cantor pop e agora um jovem e
promissor ator) confessou em uma entrevista que não queria apenas este papel,
mas (ressaltou) precisava da oportunidade de interpretar este personagem. Não é
todo o dia que se veem artistas falando de forma tão apaixonada sobre um
projeto, seja na música, cinema, ou TV. Mas, assistindo Misaeng é fácil entender o quanto este drama deve ter afetado a vida
dos atores e de todos envolvidos em sua produção. E não é de espantar que a
tvN, mais uma vez, esteja envolvida em um projeto inovador, e de qualidade
acima da média. Grandes redes como SBS e MBC têm muito a aprender com os
criativos produtores da tvN.
Simplesmente não há desculpa para deixar de ver Misaeng... Porque é impossível não sentir um amor fraternal e profundamente humano por seus personagens, especialmente por Jang Geu-era, e seus olhos brilhantes de fé e esperança, na possibilidade de uma vida completa, transbordante de felicidade...