País:
Coréia do Sul
Gênero:
Suspense
Duração:
102 min.
Direção:
Lee Kwon
Roteiro:
Lee Kwon, Park Jung-hee
Elenco:
Gong Hyo-jin, Kim Ye-won, Kim Sung-ho, Jo Bok-rae, Lee Chun-hee, Lee Ga-sub,
Kim Kwang-kyu, Kim Jae-hwa.
Resumo
Uma
jovem mulher vê sua segurança ameaçada por um estranho que tenta invadir seu
apartamento.
Comentário
Se
há um gênero de filme que caiu na armadilha do clichê, ou das fórmulas
repetitivas, é o do suspense, especialmente por culpa do cinema
norte-americano, seu principal divulgador. A verdade é que depois de autores
como Hitchcock, e mais tarde Carpenter, sobrou pouco espaço para criar algo de
novo no suspense ou no terror. Mas então, não tem mais como contar uma boa
estória sem ‘plagiar’ filmes do passado? É claro que sim, tanto que o cinema
asiático renovou o thriller, e agora é a vez dos gringos beberem desta fonte!
Mesmo assim, me surpreendi e me alegrei demais com esta pequena joia do cinema
coreano, das mãos de uma equipe jovem, e muito talentosa, que são o diretor Lee
Kwon (Save Me 2, Shut Up: Flower Boy Band) e a roteirista Park Jung-hee (Yoo-mi´s Room).
Com
uma estória simples, mas com uma estrutura que vai se desdobrando até um final
apoteótico (aí sim, optando por ser fiel ao gênero), Door Lock é mais um drama social/contemporâneo do que uma película
de ‘sustinhos’ gratuitos.
Gong
Hyo-jin (Jealousy Incarnate) é Cho
Kyung-min, uma jovem mulher que veio morar na capital em busca de um lugar ao
sol no disputadíssimo mercado de trabalho de seu país. Funcionária temporária
em um banco, ela sonha em ser efetivada, mas fica claro que sua personalidade
pouco agressiva não contribui para seu crescimento profissional. Sua única
amiga e colega, a bancária Oh Hyo-joo (a simpática Kim Ye-won, de Heart Surgeons), tenta animá-la, mas é
difícil interferir quando, por exemplo, uma gerente veterana (Kim Jae-hwa, de Room Nº 9) vive roubando seus clientes,
e seu chefe (Kim Kwang-kyu, de Diary of a
Prosecutor) cobra dedicação, mas fica só na promessa sobre sua promoção.
Cho
Kyung-min aluga um pequeno apartamento quarto/banheiro, num destes grandes
condomínios ocupados majoritariamente por estudantes e funcionários mal pagos.
A rotina da jovem é espartana, de casa para o trabalho, do trabalho para casa,
dia após dia. Até que uma noite, quando já estava deitada em sua cama, tentando
conciliar o sono, ela ouve um barulho em sua porta, e a maçaneta sendo forçada
do lado de fora. Assustada, ela chama a polícia, e é este o primeiro momento
angustiante do filme, pois sua queixa não só é diminuída como ela é
praticamente acusada de ter provocado a situação, por não ter um namorado para protegê-la,
blá-blá-blá, blá-blá-blá...
É
aí que dá o ‘click’ em qualquer mulher que esteja assistindo o filme, pois é
impossível não colocar-se na pele da personagem. Não há mulher que não tenha
passado por pelo menos uma das situações constrangedoras, ou ofensivas que Cho
Kyung-min enfrenta, confrontada por todos os personagens masculinos com os
quais convive. Não é transformar os homens em vilões, embora haja vários em seu
caminho, mas às vezes o desprezo ou a omissão são igualmente agravantes para
nós, mulheres. Cho Kyung-min não é uma garota frágil, ela simplesmente é uma
mulher muito normal, que de repente se vê confrontada com uma situação de
perigo extremo, e que precisa juntar forças quase sobre humanas para sobreviver
a uma violência absurda, perpetrada por uma única pessoa.
Door Lock pode parecer
um título meio estranho para um filme, mas a tal ‘fechadura da porta’ simboliza
tudo que envolve este conto de terror, ou seja, o segredo (o código da fechadura
eletrônica, que dá ao proprietário uma falsa sensação de segurança), a intimidade,
a familiaridade, e, em contraponto, a solidão, o isolamento, a desconexão com o
mundo exterior...
É
crucial não entrar em maiores detalhes sobre o enredo do filme, por motivos
óbvios, mas ao menos quero frisar o desempenho espetacular de Gong Hyo-jin, numa
atuação simplesmente impecável, ainda mais levando-se em conta que é muito fácil
um ator cair na armadilha das “caras e bocas” e gritinhos agudos dos filmes de
suspense, que muitas vezes provocam um humor involuntário no espectador. É
interessante observar que a carreira de Gong Hyo-jin é muito mais prolífica no
cinema, embora ela pareça ter recebido mais atenção nos últimos anos por seus
papeis nos dramas televisivos. O fato é que ela tem amadurecendo muito bem como
atriz, vide seu protagonismo em dramas imperdíveis como o mais recente, When the Camellia Blooms (KBS2, 2019),
ou o cultuado It´s Ok, This is Love
(SBS, 2014). Para um registro mais leve e romântico, vale conferir seu último
filme, Crazy Romance (2019), onde
contracena com o ator Kim Rae-won.