julho 16, 2020

Hyena (drama, 2020)




País: Coréia do Sul
Gênero: Drama Legal, Romance
Duração: 16 episódios
Produção: SBS TV

Direção: Jang Tae-yoo
Roteiro: Kim Roo-ri

Elenco: Kim Hye-soo, JooJi-hun, Lee Kyoung-young, Kim Ho-jung, Jun Suk-ho, Hyun Bong-sik, Park Se-jin, Oh Gyeong-hwa, Hong Ki-joon, Kim Jae-cheol, Lee Hwang-eui, Kim Young-jae, Hwang Bo-ra, Bae Ki-bum.

Resumo

Do romance à disputa pelo poder, um casal de advogados irá descobrir o que pesa mais na balança da justiça...

Comentário

Um drama legal é apenas mais um drama legal, mas é só colocar uma pitada de romance na estória, e a diversão está garantida. Tramas envolvendo advogados, promotores e a lei tem sido uma constante nas séries coreanas, mas o romance é um ingrediente que tem sido inserido com muita timidez pelos roteiristas... Diary of a Prosecutor (jtbc, 2029), Judge vs. Judge (SBS, 2017), Miss Hammurabi (jtbc, 2018), Remember (SBS, 2015), Pride and Prejudice (MBC, 2014), Your Honor (SBS, 2018), são exemplos de bons dramas, que usaram os relacionamentos românticos com maior ou menor efeito, mas sempre como tema secundário. Dramas legais que deram mais chance ao amor, a quem possa interessar: Lawless Lawyer (tvN, 2018), The Lawyers of the Great Republic Korea (MBC, 2008), While You Where Sleeping (SBS, 2017), Suspicious Partner (SBS, 2017).

Em Hyena, o romance e o drama legal andam juntos, de mãos dadas... Yoon Hee-jae (JooJi-hun, de Mask, Antique), advogado associado do grande escritório Song & Kim, frio dentro das cortes de justiça, bon vivant na intimidade, no fundo é um cara solitário. Por isso mesmo, não é de surpreender que ele se deixe seduzir pela misteriosa Jung Geum-ja (Kim Hye-soo, de Signal, The Thieves). O advogado fica encantado com Jung Geum-ja, uma mulher madura, sofisticada, que compartilha com ele gostos e humores. Quando o relacionamento começa a ficar sério, e Yoon Hee-jae decide que é hora de abandonar a vida de playboy, a namorada some de cena, para reaparecer diante dele, como a combativa e irreverente advogada Jung Geum-ja.

De amantes a rivais, e, finalmente, a colegas e cúmplices no combate a um inimigo em comum, - a estória de amor deste casal é uma verdadeira montanha russa de emoções. No entanto, mais do que um belo romance, Hyena traz à tona temas muito sérios, como a violência de gênero, o feminicídio, e a corrupção inerente ao poder.
Intrigante é um adjetivo modesto para descrever Jung Geum-ja. Desde a primeira cena, a advogada nos choca com o contraste entre sua imagem frágil e sua reação violenta, descontrolada, ao ser confrontada com o ataque de um cliente, um bandido de segunda linha, inconformado com sua sentença. Logo em seguida, ela surge elegante, misteriosa, sexy, iludindo um advogado presumivelmente experiente e astuto, Yoon Hee-jae. Mas Jung Geum-ja é sim a heroína desta estória, e seu comportamento contraditório é, aos poucos, revelado, e nos compadecemos de seu passado triste, de vítima de violência doméstica, que, por sinal, ela nunca pôde superar completamente.

O mesmo vale para Yoon Hee-jae, que, sob a aparência de advogado despreocupado e defensor cego dos poderosos, está um homem atormentado pelo complexo de inferioridade incutido por sua família, que atua do lado oposto da lei. Seu pai, o prestigiado juiz federal Yoon Choong-yeon (Lee Hwang-eui), e seu irmão mais velho, o promotor Yoon Hyeok-jae (Kim Young-jae), fazem questão de enfatizar que ambos são moralmente superiores ao caçula. Para eles, o fato de Yoon Hee-jae ter escolhido a defesa sobre a acusação é símbolo de fracasso como profissional e ser humano, apesar de ele ser contratado de um dos escritórios mais poderosos do país. É com simpatia que vemos este lado frágil de Yoon Hee-jae, mas seu lado honesto e desprendido se revelará justo no confronto com a rebelde Jung Geum-ja, a mulher que provoca uma grande revolução em sua vida.

Com um enredo romântico muito satisfatório, com humor e ‘calor’ na dose certa, e uma trama política bem construída, que serve justamente à trama, sem deixar pontas, Hyena é um drama imperdível para os espectadores que gostem de estórias inteligentes e impactantes.

junho 17, 2020

Stove League (drama, 2020)




País: Coréia do Sul
Gênero: Drama, Esporte
Duração: 16 episódios
Produção: SBS TV

Direção: Jung Dong-yoon
Roteiro: Lee Shin-hwa

Elenco: Namgung Min, Park Eun-bin, Oh Jung-se, Joe Byeong-gyu, Lee Joon-hyuk, Hong Ki-joon, Chae Jong-hyeop, Jo Han-sun, Cha Yub, Lee Eol, Ha Do-kwon, Jeon Kuk-hwan, Yoon Sun-woo, Lee Yong-woo, Lee Je-hoon, Son Jong-hak.

Resumo

Baek Seung-soo é o novo gerente geral da equipe de beisebol profissional Dreams. Sua tarefa é reerguer o time, e levá-lo a vitoria na próxima temporada.

Comentário

Um drama sobre esportes, e ainda mais, sobre beisebol, uma modalidade pouco apreciada em nosso país? Não é o tipo de trama que me atrairia à primeira vista. No entanto, Stove League (ou Hot Stove League) é a estória de um homem que, mais do que um fã de esportes, é um apreciador de jogos de estratégia... Sim, porque administrar uma equipe de beisebol (ou de qualquer outro esporte coletivo) é uma tarefa hercúlea, que envolve não apenas tino comercial, mas uma boa dose de psicologia e estratégia de antecipação.

[Resolvi abrir alguns spoilers, nada que entregue os pontos cruciais da estória, mas para dar uma amostra do clima do drama, que é repleto de reviravoltas emocionantes, sem contar a crescente admiração e carinho por seu grande protagonista, interpretado brilhantemente por Namgung Min]

O termo “liga da estufa” refere-se ao intervalo entre as temporadas de jogos, quando os times aproveitam para reorganizar-se, e os atletas para treinar, recuperar-se de lesões e, o mais importante, renovar seus contratos, ou, se for o caso, mudar de equipe.

Após uma temporada decepcionante para o Dreams, os administradores do time resolvem contratar um novo gerente geral. Baek Seung-soo (Namgung Min, de Doctor Prisoner, The Girl Who Sees Smells) tem a fama de “arrumar” qualquer time, levando-o milagrosamente ao mais alto da tabela do campeonato. No entanto, o novo gerente não tem uma acolhida das mais calorosas por parte de funcionários e atletas do clube, por dois motivos: ele nunca dirigiu um time de beisebol, e, o mais preocupante, todas as equipes pelas quais passou, encerraram suas atividades logo após ganhar o campeonato.  Além do mais, o pragmatismo e frieza de Baek Seung-soo não contribuem para sua adaptação ao trabalho, e, a princípio, fica a impressão de que ele seria aquele tipo de executivo especializado em desmontar e desfazer-se de uma empresa que está causando prejuízo. Bem, há uma parcela de verdade nesta estória, já que o dono do time, o CEO Kwon Il-do (Jeon Kuk-hwan, de Crash Landing on You) tem mesmo a intenção de desfazer-se do Dreams. Acontece que não é tão fácil aposentar um time de beisebol (o esporte favorito dos coreanos), provocando a ira dos fãs de tantos anos, e, consequentemente, maculando a imagem da empresa proprietária. O problema é que os donos do Dreams não contavam com a determinação e senso de ética do novo gerente, que não tem a intenção de fazer corpo mole, e deixar que o time caia em desgraça sem lutar até o fim.

O ator Namgung Min está mais do que confortável no papel, está no seu campo de jogo, para usar uma analogia esportiva. Seu olhar frio, sua voz macia e ao mesmo tempo gélida servem muito bem ao caráter hermético de Baek Seung-soo. Felizmente, sua ironia elegante evita que o personagem torne-se antipático. Baek Seung-soo é um workaholic, um homem solitário, que se dedica de corpo e alma ao trabalho. Infelizmente, ele leva a fama de arruinar os times pelos quais passa, uma grande injustiça, já que em todos os casos, a responsabilidade não foi sua, mas dos proprietários dos clubes. Ao assinar o contrato com o Dreams, ele não é informado das intenções da direção de fechar o clube. À medida que seu trabalho começa a dar frutos, e o time começa a ser reorganizado com sucesso, contraditoriamente, cresce a insatisfação da direção com seu trabalho. Quando o presidente Kwon Kyung-min (Oh Jung-se, de When the Camellia Blooms) deixa claro que esta deve ser a derradeira temporada do clube, Baek Seung-soo já está completamente envolvido emocionalmente com os funcionários e atletas do Dreams, e fará de tudo para evitar o seu desaparecimento.

No entanto, não é uma tarefa fácil convencer os trabalhadores do Dreams de suas boas intenções, e a cada dia há uma batalha a ser vencida. A primeira a tornar-se sua aliada é a gerente de operações Lee Se-young (Park Eun-bin, de Age of Youth) e seu assistente, o jovem Han Jae-hee (Joe Byeong-gyu, de SKY Castle). Depois de formar aliança com eles vem a parte mais complicada, que é conquistar a confiança da equipe técnica e dos atletas do clube. O técnico principal do Dreams é o veterano Yoon Seong-bok (Lee Eol, de Live), que se dá bem com os atletas, mas vive em atrito com os técnicos assistentes, que tentam “puxar o seu tapete” sempre que podem, tornando o clima interno dos mais tensos.

Por falar em tensão, a parte mais crítica do trabalho de um gerente esportivo é negociar com as grandes estrelas do time, e Baek Seung-soo vive momentos muito desagradáveis nas mãos do jogador Lim Dong-gyu (Jo Han-sun). Lim Dong-gyu é uma celebridade nacional, adorado pelos fãs, mas também é aquele tipo de atleta que desequilibra moralmente os colegas. A solução de Baek Seung-soo é pedir ao time dos Vikings que troque seu arremessador, o veterano Kang Du-ki (Ha Do-kwon), por Lim Dong-gyu. Assim, ele se livra de um jogador caro, temperamental, e traz de volta ao Dreams um arremessador que era muito querido de todos. Mas este não é o lance mais ousado do gerente, pois ele ainda viaja aos EUA para convencer o ex-batedor Gil Chang-joo (Lee Yong-woo, de Twelvew Men in a Year), um atleta expatriado a voltar à terra natal, e juntar-se ao Dreams.

E é assim, passo a passo, usando de estratégias inteligentes, mas sempre éticas, que Baek Seung-soo consegue reerguer o Dreams, levantando a moral da equipe, dos fãs, e trazendo esperança de que a nova temporada traga muitas vitórias ao time. Mas, como todo grande herói, ele vai experimentar momentos de dúvida, de solidão, e terá de sacrificar sua carreira para um bem maior, como é de se esperar de um grande líder.

Stove League é um drama encantador, sem forçar a barra com mensagens moralistas, ilustrando uma realidade comum ao mundo dos esportes, em qualquer modalidade, em qualquer parte do mundo. Não seria de surpreender-se que outros países queiram fazer suas próprias versões desta bela estória de superação e sucesso... Além disso, os fãs do drama já sugeriram que o carismático Baek Seung-soo volte algum dia, com novos desafios. Torçamos para uma nova temporada!

maio 22, 2020

Door Lock (filme, 2018)




País: Coréia do Sul
Gênero: Suspense
Duração: 102 min.

Direção: Lee Kwon
Roteiro: Lee Kwon, Park Jung-hee

Elenco: Gong Hyo-jin, Kim Ye-won, Kim Sung-ho, Jo Bok-rae, Lee Chun-hee, Lee Ga-sub, Kim Kwang-kyu, Kim Jae-hwa.

Resumo

Uma jovem mulher vê sua segurança ameaçada por um estranho que tenta invadir seu apartamento.

Comentário

Se há um gênero de filme que caiu na armadilha do clichê, ou das fórmulas repetitivas, é o do suspense, especialmente por culpa do cinema norte-americano, seu principal divulgador. A verdade é que depois de autores como Hitchcock, e mais tarde Carpenter, sobrou pouco espaço para criar algo de novo no suspense ou no terror. Mas então, não tem mais como contar uma boa estória sem ‘plagiar’ filmes do passado? É claro que sim, tanto que o cinema asiático renovou o thriller, e agora é a vez dos gringos beberem desta fonte! Mesmo assim, me surpreendi e me alegrei demais com esta pequena joia do cinema coreano, das mãos de uma equipe jovem, e muito talentosa, que são o diretor Lee Kwon (Save Me 2, Shut Up: Flower Boy Band) e a roteirista Park Jung-hee (Yoo-mi´s Room).

Com uma estória simples, mas com uma estrutura que vai se desdobrando até um final apoteótico (aí sim, optando por ser fiel ao gênero), Door Lock é mais um drama social/contemporâneo do que uma película de ‘sustinhos’ gratuitos.

Gong Hyo-jin (Jealousy Incarnate) é Cho Kyung-min, uma jovem mulher que veio morar na capital em busca de um lugar ao sol no disputadíssimo mercado de trabalho de seu país. Funcionária temporária em um banco, ela sonha em ser efetivada, mas fica claro que sua personalidade pouco agressiva não contribui para seu crescimento profissional. Sua única amiga e colega, a bancária Oh Hyo-joo (a simpática Kim Ye-won, de Heart Surgeons), tenta animá-la, mas é difícil interferir quando, por exemplo, uma gerente veterana (Kim Jae-hwa, de Room Nº 9) vive roubando seus clientes, e seu chefe (Kim Kwang-kyu, de Diary of a Prosecutor) cobra dedicação, mas fica só na promessa sobre sua promoção.

Cho Kyung-min aluga um pequeno apartamento quarto/banheiro, num destes grandes condomínios ocupados majoritariamente por estudantes e funcionários mal pagos. A rotina da jovem é espartana, de casa para o trabalho, do trabalho para casa, dia após dia. Até que uma noite, quando já estava deitada em sua cama, tentando conciliar o sono, ela ouve um barulho em sua porta, e a maçaneta sendo forçada do lado de fora. Assustada, ela chama a polícia, e é este o primeiro momento angustiante do filme, pois sua queixa não só é diminuída como ela é praticamente acusada de ter provocado a situação, por não ter um namorado para protegê-la, blá-blá-blá, blá-blá-blá...

É aí que dá o ‘click’ em qualquer mulher que esteja assistindo o filme, pois é impossível não colocar-se na pele da personagem. Não há mulher que não tenha passado por pelo menos uma das situações constrangedoras, ou ofensivas que Cho Kyung-min enfrenta, confrontada por todos os personagens masculinos com os quais convive. Não é transformar os homens em vilões, embora haja vários em seu caminho, mas às vezes o desprezo ou a omissão são igualmente agravantes para nós, mulheres. Cho Kyung-min não é uma garota frágil, ela simplesmente é uma mulher muito normal, que de repente se vê confrontada com uma situação de perigo extremo, e que precisa juntar forças quase sobre humanas para sobreviver a uma violência absurda, perpetrada por uma única pessoa.

Door Lock pode parecer um título meio estranho para um filme, mas a tal ‘fechadura da porta’ simboliza tudo que envolve este conto de terror, ou seja, o segredo (o código da fechadura eletrônica, que dá ao proprietário uma falsa sensação de segurança), a intimidade, a familiaridade, e, em contraponto, a solidão, o isolamento, a desconexão com o mundo exterior...

É crucial não entrar em maiores detalhes sobre o enredo do filme, por motivos óbvios, mas ao menos quero frisar o desempenho espetacular de Gong Hyo-jin, numa atuação simplesmente impecável, ainda mais levando-se em conta que é muito fácil um ator cair na armadilha das “caras e bocas” e gritinhos agudos dos filmes de suspense, que muitas vezes provocam um humor involuntário no espectador. É interessante observar que a carreira de Gong Hyo-jin é muito mais prolífica no cinema, embora ela pareça ter recebido mais atenção nos últimos anos por seus papeis nos dramas televisivos. O fato é que ela tem amadurecendo muito bem como atriz, vide seu protagonismo em dramas imperdíveis como o mais recente, When the Camellia Blooms (KBS2, 2019), ou o cultuado It´s Ok, This is Love (SBS, 2014). Para um registro mais leve e romântico, vale conferir seu último filme, Crazy Romance (2019), onde contracena com o ator Kim Rae-won.

abril 29, 2020

Itaewon Class (drama, 2020)




País: Coréia do Sul
Gênero: Drama
Duração: 16 episódios
Produção: jTBC TV

Direção: Kim Sung-yoon
Roteiro: Jo Gwang-jin, baseado em seu webtoon Itaewon Class

Elenco: Park Seo-joon, Yoo Jae-myung, Kim Da-mi, Kwon Nara, Ahn Bo-hyun, Kim Dong-hee, Ryoo Kyung-soo, Lee Joo-young, Kim Hye-eun, David Lee, Chris Lyon, Son Hyun-joo, Kim Yeo-jin, Kim Mi-kyung.

Resumo

O jovem Sae-ro-yi sonha em abrir um restaurante em Itaewon, o bairro boêmio de Seul.

Comentário

Uma lenta, mas inevitável, revolução social vem acontecendo na dramaturgia televisiva coreana nos últimos dois ou três anos. E o drama Itaewon Class é a melhor e mais definitiva prova disto. Em quase todas as culturas os quadrinhos, e agora os webtoons, sempre tiveram uma maior liberdade em abordar assuntos tabus. Mais além dos personagens marcantes da estória em quadrinhos, os temas polêmicos chamaram a atenção e ganharam a apreciação dos leitores de Itaewon Class. Pode-se questionar (e eu certamente questiono) a decisão de deixar a cargo do autor original a transposição da estória para a live action, mas o lado positivo é que a ousadia e o ‘frescor’ da estória foram mantidos.

Itaewon Class é um melodrama juvenil, quase uma fantasia, sobre um jovem que é motivado pelo desejo de vingança, mas que acaba usando esta energia negativa para superar seus problemas e ajudar os amigos que faz ao longo do caminho.

Quando digo que Itaewon Class pode ser classificado como uma fantasia, mesmo que contemporânea, é pela escolha em transformar a realidade capitalista/empresarial em uma batalha de capa e espada, e sabemos muito bem que o mundo dos negócios é muito mais complexo (e cruel) do que o que vemos neste drama. Para argumentar sobre minha reticência sobre o drama terei de revelar alguns spoilers, fica o aviso...

Park Seo-joon (Midnight Runners, Fight for My Way) é Park Sae-ro-yi, um jovem de bom coração, mas introvertido e por isso mesmo, muito solitário. Seu pai, Park Sung-Yeol (Son Hyun-joo, de 3 Days, Criminal Minds), funcionário antigo do grupo empresarial Jangga é transferido para uma cidade do interior, e matricula o filho na escola local. No primeiro dia de aula, Sae-ro-yi se envolve em uma briga ao defender um colega que estava sendo humilhado dentro da sala. Acontece que o autor do bulling é justamente o filho mais velho do chefe de seu pai, o CEO Jang Dae-hee (Yoo Jae-myung, de Forest of Secrets, Confession). Apesar de conhecer e confiar no Sr. Park há tantos anos, o presidente Jang logo revela seu caráter irascível, ao exigir que Sae-ro-yi se desculpe com seu filho mimado, Jang Geun-won (Ahn Bo-hyun, de Her Private Life). Sae-ro-yi se recusa a pedir perdão, com o apoio de seu pai, mas o castigo é a expulsão do rapaz da escola, e a demissão de seu pai da empresa Jangga. O pai de Sae-ro-yi, ao invés de esmorecer, vê no contratempo a oportunidade de abrir o próprio negócio. Com ajuda do filho, que pegou o gosto pela cozinha, por ser órfão de mãe, o Sr. Park abre um pequeno restaurante. Infelizmente, uma tragédia se abate sobre a família, com a morte do Sr. Park, vítima de um atropelamento e fuga. O único apoio emocional de Sae-ro-yi é a colega Oh Soo-a (Kwon Nara, de Doctor Prisioner, My Mister), uma garota órfã que tinha um carinho especial pelo Sr. Park. Mas nem mesmo Oh Soo-a consegue evitar que o rapaz vá atrás de Jang Geun-won, ao descobrir que ele pode ser o assassino de seu pai. Acusado de tentativa de homicídio, Sae-ro-yi é condenado a sete anos de prisão, e ao sair da cadeia seu objetivo é claro, fazer justiça contra aqueles que destruíram sua família e arruinaram seu futuro.

Um ponto positivo da estória é mostrar que não existem milagres monetários, isto é, o dinheiro não cai do céu. Como Sae-ro-yi não tem a sorte de ganhar na loteria, ao sair da cadeia ele põe em prática um plano a longo prazo para ganhar dinheiro o bastante para abrir um restaurante no bairro mais badalado de Seul, Itaewon. Sae-ro-yi passa os próximos sete anos em um barco de pesca em alto mar e, só então, pode abrir seu tão sonhado negócio. Com a ajuda dos únicos amigos, uma cozinheira, Ma Hyun-yi (Lee Joo-young, de Weightlifting Fairy Kim Bok-joo), e um garçon, Choi Seung-kwon (Ryoo Kyung-soo, de Confession), ele tem a ilusão de fazer grandes negócios... No entanto, não demora muito para o trio cair na real, e ver que a concorrência no bairro boêmio é implacável, e os clientes simplesmente não aparecem.

É com a ajuda da influenciadora digital e socialite Jo Yi-seo (Kim Da-mi, de The Witch: Part 1. The Subversion) que Sae-ro-yi irá aprender as ‘manhas’ do negócio e obterá o tão almejado sucesso. Só que a ambição de Sae-ro-yi é muito maior; o que ele quer mesmo é chegar a um nível tão alto que possa ameaçar o monopólio do business de alimentação do grupo Jangga.

Com o sucesso explosivo do restaurante DanBam, o plano ousado de Sae-ro-yi é o de abrir mais restaurantes e expandir o negócio com uma rede de franquias da marca. Seus maiores aliados são o amigo e assessor financeiro Lee Ho-jin (David Lee, de Save Me, Bring It On, Ghost), e a diretora do grupo Jangga, Kang Min-jung (Kim Hye-eun, de The Guest). Até aí tudo bem, já que estas duas pessoas são ‘entendidas’ no mundo dos negócios, e podem de fato orientar Sae-ro-yi. Mas tudo começa a ficar muito confuso e inverossímil quando Sae-ro-yi resolve ouvir os conselhos nada embasados de Jo Yi-seo, com a única justificativa de confiar na garota. Fica difícil engolir esta parte da trama, pois, por mais inteligente que Jo Yi-seo seja, ela é uma garota de 20 anos, que abandonou a faculdade, e tem experiência zero em administração financeira. O resultado é óbvio, e é frustrante ver com a garota se torna uma pedra no sapato de Sae-ro-yi, até mesmo com sua paixão obsessiva por ele. O personagem só não se torna mais desagradável pela atuação impecável da quase novata Kim Da-mi. Apostei até o fim (e errei, óbvio) que o relacionamento de Yi-seo e Sae-ro-yi iria por um caminho mais natural e realista. Perseguir alguém e ganhar pelo cansaço não é o melhor dos exemplos de comportamento, para ambos os sexos. É verdade que o desgaste emocional na relação de Sae-ro-yi e Oh Soo-a impediu que houvesse um futuro para o casal. Faltou a mão de um roteirista mais experiente para cortar estas arestas e ser mais pragmático com a porção romântica da trama.

Contos de vingança sempre me deixam um gosto amargo na boca, e é verdade que nem de longe é meu tipo preferido de estória. Tirando o romance “água com açúcar”, fica a frustração maior com a moral da estória: a vingança compensa, e o que importa é o pote de ouro no final do arco-íris. Não teria sido tão mais encantador ver Sae-ro-yi desfazendo-se da corporação e voltando às origens, no pequeno restaurante que seu pai sonhou ter, cozinhando pratos deliciosos, ao lado de sua amada (seja quem for)? A verdade é que os protagonistas de Itaewon Class são carismáticos o bastante para manter o interesse do espectador, mesmo com esvaziamento da trama em seu terceiro ato. Graças ao duelo de interpretações de Park Seo-joon (que preserva seu charme irresistível, mesmo com um corte de cabelo bizarro) e seu nêmesis, Yoo Jae-myung (um ator de método, que sempre nos surpreende e encanta), Itaewon Class é o drama que deve deixar a melhor lembrança em um ano conturbado como este, o ano da pandemia.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...