março 30, 2022

I´m Not A Robot (MBC, 2017)

 


País: Coréia do Sul

Gênero: ficção científica, romance, comédia

Duração: 16 episódios

Produção: MBC

Direção: Jung Dae-yoon

Roteiro: Kim Seon-mi, Lee Seok-joon

Elenco: Chae Soo-bin, Yoo Seung-ho, Uhm Ki-joon, Kang Ki-young, Park Se-wan, Ko Gun-han, Song Jae-ryong, Seo Dong-won.

 

Resumo

 

Engenheiro cria um androide sob encomenda para um jovem milionário. O robô é idêntico em aparência à ex-namorada do cientista.

 

Comentário

 

Quando se fala em robótica, é natural pensar logo no Japão, não só por seu pioneirismo no desenvolvimento tecnológico, mas também pela abundante cultura voltada à ficção científica, capitaneada pelos mangás. O drama romântico Absolute Boyfriend (2008) foi a primeira adaptação para a TV, baseada no mangá de Watase Yuu, que conta a estória de um robô humanóide programado para ser o namorado perfeito. O drama rendeu dois remakes, Absolute Darling (Taiwan, 2012), e My Absolute Boyfriend (SBS, 2019). Em 2018 estreava Are You Human? (KBS2 TV), um sci-fi muito interessante, sobre uma cientista que cria uma cópia androide de seu filho, em coma há anos, para vingar-se da poderosa família de seu falecido marido.

 

Mas, um ano antes, a MBC TV investia numa ficção científica com viés cômico-romântico, I´m Not A Robot, da pena da roteirista de cinema veterana, Kim Seon-mi (Seducing Mr. Perfect) e com a colaboração do novato Lee Seok-joon. O ótimo PD Jung Dae-yoon (King 2 Hearts, W) foi responsável por equilibrar romance e aventura com muita destreza.

 

Para começar, preciso admitir que considero deveras bizarro imaginar uma ligação romântica entre humanos e robôs, mesmo que sejam androides altamente tecnológicos, como os retratados em Blade Runner (1982). Mas tudo bem, na ficção o tema gera estórias de amor inesquecíveis; afinal, quem não torceu por um final feliz para o casal Rachael e Deckard? Por outro lado, é exatamente por subverter o clássico romance sci-fi homem-máquina, que I´m Not A Robot acerta em cheio e inova no gênero. Por que o drama não teve o sucesso merecido? Como saber, afinal, até mesmo Blade Runner tornou-se um cult, mas foi um fracasso de bilheteria, na época.

 

Foram dois os motivos que me trouxeram à lembrança este drama: a falta de bons dramas românticos nos últimos tempos, e uma reflexão sobre a carreira de Yoo Seung-ho, um ator super talentoso, que tem tido pouca sorte com seus últimos projetos, quase todos medianos, para dizer o mínimo. Sua jornada artística, de ator mirim à jovem promessa de ‘Hallyuwood’ tem seus altos e baixos, comuns a qualquer profissional, mas ele tem muito mais a oferecer. Embora Yoo Seung-ho tenha se consagrado em papeis marcantes e psicologicamente ‘pesados’, como Missing You, há dois dramas muito bons, mas, novamente, de pouca repercussão, que chamaram minha atenção para uma nova faceta de seu talento, a comédia. Tanto em I´m Not A Robot como em My Strange Hero (SBS, 2018) ele encarna papeis nos quais sua beleza fica em segundo plano. Os atores costumam dizer que é muito mais difícil fazer rir do que fazer chorar, e, se Yoo Seung-ho nos comove profundamente em Remember: War of Son, nos diverte imensamente com o chaebol neurótico de I´m Not A Robot.

  

Sabemos que todo jovem milionário dos dramas românticos coreanos precisa de uma garota ‘do povo’ para lhe ensinar a viver e amar com intensidade. Aí é que entra um dos personagens mais encantadores e divertidos da história dos kdramas, Jo Ji-a (ou Aji 3). Chae Soo-bin (A Piece of Your Mind), com seu rosto de boneca de porcelana encarna dois personagens que, teoricamente, não poderiam ser mais diferentes. Jo Ji-a é uma jovem que se esforça genuinamente para ser alguém na vida, mas a sorte nunca está ao seu lado. Ela mora de favor na casa do irmão mais velho, o advogado Jo Jin-bae (Seo Dong-won), que a repreende constantemente por sua instabilidade profissional. Ji-a sonha em emplacar no mercado algum de seus muitos inventos, mas os constantes fracassos começam a cobrar fatura sobre seu caráter naturalmente positivo. Neste momento crítico de sua existência surge a oportunidade de ao menos ganhar um dinheiro fácil... Seu ex-namorado, o Dr. Hong Baek-gyun (Uhm Ki-joon, de Scent of a Woman), um engenheiro de robótica, desenvolve um projeto inovador de inteligência artificia, que planeja vender para um grande investidor. Junto de sua pequena equipe, formada pelos engenheiros Pi (Park Se-wan), Ssanip (Ko Gun-han) e Hoktal (Song Jae-ryong) ele inventa uma criada androide, usando como modelo visual a jovem Jo Ji-a. O androide, que o cientista batiza de Aji 3, é vendido para o excêntrico milionário Kim Min-kyu, que vive isolado do mundo em sua mansão, e acha uma ótima ideia ter uma companhia ‘não humana’ para sua vida solitária.

 

No entanto, as coisas se complicam quando, no prazo de entrega, o androide apresenta um defeito e o Dr. Hong fica com medo de perder o grande negócio e o financiamento para suas futuras pesquisas. Assim, ele procura a ex-namorada e pede que ela finja ser a criada androide por uns poucos dias. Ela aceita o encargo, sem imaginar a tremenda confusão em que irá se meter ao ter de lidar com um jovem rico, neurótico, e com segredos que nem mesmo seus familiares mais próximos conhecem.

 

Imagine I´m Not A Robot como uma daquelas comédias românticas clássicas do “casal desconhecido que é obrigado por circunstâncias alheias a sua vontade a compartilhar moradia”, só que neste caso a garota deve fingir 24 horas por dia ser um androide. Dá para imaginar as situações engraçadas que se desenrolam em meio a essa situação absurda, mas é graças a atuação brilhante de Chae Soo-bin, como Aji 3, que, igual ao seu ‘dono’, quase acreditamos que esta fantasia poderia tornar-se realidade.

 

E o segundo ponto positivo, certamente, é a ótima química entre o casal de protagonistas, e, nos poucos episódios em que passam separados, sentimos muita falta de sua interação, e da revolução de sentimentos que o encontro gera em ambos, - ele, por não poder admitir estar se apaixonando por um robô, e ela, por ter de esconder seus sentimentos, por motivos óbvios.

 

E, apesar do tom geral ser de uma comédia leve, os protagonistas não são tratados como tolos, muito pelo contrário... Kim Min-kyu é um jovem solitário, com traumas do passado que sua fortuna e poder não podem curar. Jo Ji-a, em oposição a Min-kyu, tem acolhimento emocional da família, mas lhe falta o apoio financeiro, e o reconhecimento profissional ao seu talento como mulher inventora. E é essa troca de experiências e de sentimentos que transformam a simples fantasia num belo romance, mais do que real!

março 11, 2022

Dark Hole (drama, 2021)

 


País: Coréia do Sul

Gênero: Suspense, Ficção

Duração: 12 episódios

Produção: OCN/tvN

Direção: Kim Bong-joo

Roteiro: Jung Yi-do

Elenco: Kim Ok-vin, Lee Joon-hyuk, Song Sang-eun, Lim Won-hee, Jo Ji-na, Bae Jung-hwa, Oh Yu-jin, Park Keun-rok, Kim Byung-ki, Lee Ha-eun, Kim, Do-hoon, Lee Ye-bit, Jung Hae-kyun, Heo Hyung-kyu, Jeon Yeo-jin,Yong-jin, Yun Seul.

 

Resumo

 

Uma agente policial de Seul, ao seguir a uma pista de uma criminosa, chega à cidade de Mooji, justo quando surge uma enorme cratera na floresta local, da qual sai uma névoa escura que transforma os moradores em zumbis.

 

Comentário

 

É admirável a criatividade dos roteiristas coreanos para reciclar temas do cinema de suspense, como os lendários mortos-vivos... Os zumbis já são considerados um arquétipo da cultura ocidental, especialmente de Hollywood. Mas o oriente tem todo o direito de explorar este mito, já que sua origem é milenar, e presente em várias culturas.

E parece que os temas apocalípticos viraram febre, mesmo com a sensibilidade de todos à flor da pele após dois anos de pandemia. Depois de Dark Hole tivemos mais dois dramas com zumbis no protagonismo, Happiness (tvN, 2021) e All of Us Are Dead (Netflix), ambos excelentes!

O roteirista Jung Yi-do (Save Me, Strangers from Hell) é um mestre do terror psicológico; seus personagens são tão ou mais assustadores que os eventos místicos, ou antinaturais que os afligem. Tanto é verdade que em Dark Hole o autor divide o suspense, com certo senso de ironia, entre a misteriosa ‘névoa’ mortal, e a pura e imparável maldade humana.

O drama começa com uma cena ‘spoiler total’ do terror que os protagonistas irão enfrentar heroicamente dentro de poucas, mas intensas horas. Mas vamos reservar a curiosidade ao espectador e, enquanto isso, dias antes...

... A inspetora Lee Hwa-sun (Kim Ok-vin, Arthdal Chronicles) chega à cidade de Mooji, seguindo a pista de uma assassina perigosa chamada Lee Soo-yeon. Um forte impulso de justiça e vingança levam a policial da Unidade de Investigação Criminal da Agência Metropolitana de Seul a perseguir a criminosa de rosto desconhecido. No entanto, a única coisa estranha que Lee Hwa-sun encontra é uma profunda cratera, em meio à floresta que cerca a cidade. Ela fica paralisada diante do enorme buraco, que expele lentamente uma estranha névoa escura. Como disse Nietzche, “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” É o que a ‘névoa’ faz com as pessoas, as obrigam a encarar seu lado mais escuro.

Yoo Tae-han (Lee Joon-hyuk, A Poem A Day, Forest of Secrets), motorista de um caminhão guincho, percorre as estradas do interior, na companhia do amigo Nam Yeong-sik (Kim Han-jong). Ex-policial, Tae-han é um tipo tranquilo, mas seu senso de justiça e sua bravura afloram na hora do perigo.

Quando o povo da pacata cidade de Moojin se dá conta de que a tal ‘névoa’ é responsável pela súbita onda de violência, infelizmente, é tarde demais, e o caos se instala ali. Depois de cruzar brevemente com Lee Hwa-sun, Yoo Tae-han refugia-se no hospital local, junto de pacientes e outros cidadãos assustados. Ali ele reencontra o ex-colega, o policial Park Soon-il (Lim Won-hee, Romantic Doctor,Teacher Kim), e o novato Cho Hyun-ho (Jo Ji-na, Love Alarm), cuja jovem esposa se encontra no final da gravidez.

Enquanto isso Lee Hwa-sun ajuda uma enfermeira a resgatar sua pequena filha, Do-yoon (Lee Ye-bit, The Uncanny Counter). A policial e a criança acabam fugindo para a Escola Secundária de Moojin, cujos alunos e professores também fazem barricadas para evitar a entrada dos zumbis; a essa altura, boa parte dos moradores foram contaminados pela névoa tóxica. Na escola, a policial enfrenta um perigo ainda maior do que a névoa, e alerta à Tae-han por rádio, para que tome cuidado.

Como se a situação não estivesse tensa o bastante, um grupo de fanáticos religiosos, liderados pela xamã Madame Kim (Song Sang-eun, Private Lives), é convencido do poder místico/divino da ‘névoa’. Yoo Tae-han e a equipe do hospital são cada vez mais hostilizados pela xamã e seus asseclas.

Lee Hwa-sun e Yoo Tae-han unem forças para resgatar os poucos sobreviventes, e derrotar o Mal, no melhor estilo “Caça Fantasmas”.

Para quem aprecia um bom suspense clássico, com muita correria, heróis simpáticos, Dark Hole é a aventura certa para se embarcar. Kim Ok-vin e Lee Joon-hyuk formam uma dupla encantadora, - ela ousada e passional, ele corajoso e bem-humorado. O PD Kim Bong-joo (The Phone, 2015) é muito eficiente na condução do elenco, grande e variado, e as cenas de ação são fluidas e emocionantes. A porção jovem do elenco é carismática, especialmente a protagonista Oh Yu-jin (True Beauty), no papel da estudante Han Dong-rim, e Kim Do-hoon (Here´s My Plan), como seu nêmesis, o asqueroso Lee Jin-seok. Mas é a atriz mirim Lee Ye-bit que encanta com seu talento natural, e sua força ao interpretar um personagem tão sofrido.

Eu assistiria uma segunda temporada de Dark Hole, ou quem sabe um longa-metragem? É pouco provável que isso aconteça, mas ao menos há uma boa notícia para os fãs de Kim Ok-vin, que é a confirmação da 2ª temporada de Arthdal Chronicles.
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