março 30, 2022

I´m Not A Robot (MBC, 2017)

 


País: Coréia do Sul

Gênero: ficção científica, romance, comédia

Duração: 16 episódios

Produção: MBC

Direção: Jung Dae-yoon

Roteiro: Kim Seon-mi, Lee Seok-joon

Elenco: Chae Soo-bin, Yoo Seung-ho, Uhm Ki-joon, Kang Ki-young, Park Se-wan, Ko Gun-han, Song Jae-ryong, Seo Dong-won.

 

Resumo

 

Engenheiro cria um androide sob encomenda para um jovem milionário. O robô é idêntico em aparência à ex-namorada do cientista.

 

Comentário

 

Quando se fala em robótica, é natural pensar logo no Japão, não só por seu pioneirismo no desenvolvimento tecnológico, mas também pela abundante cultura voltada à ficção científica, capitaneada pelos mangás. O drama romântico Absolute Boyfriend (2008) foi a primeira adaptação para a TV, baseada no mangá de Watase Yuu, que conta a estória de um robô humanóide programado para ser o namorado perfeito. O drama rendeu dois remakes, Absolute Darling (Taiwan, 2012), e My Absolute Boyfriend (SBS, 2019). Em 2018 estreava Are You Human? (KBS2 TV), um sci-fi muito interessante, sobre uma cientista que cria uma cópia androide de seu filho, em coma há anos, para vingar-se da poderosa família de seu falecido marido.

 

Mas, um ano antes, a MBC TV investia numa ficção científica com viés cômico-romântico, I´m Not A Robot, da pena da roteirista de cinema veterana, Kim Seon-mi (Seducing Mr. Perfect) e com a colaboração do novato Lee Seok-joon. O ótimo PD Jung Dae-yoon (King 2 Hearts, W) foi responsável por equilibrar romance e aventura com muita destreza.

 

Para começar, preciso admitir que considero deveras bizarro imaginar uma ligação romântica entre humanos e robôs, mesmo que sejam androides altamente tecnológicos, como os retratados em Blade Runner (1982). Mas tudo bem, na ficção o tema gera estórias de amor inesquecíveis; afinal, quem não torceu por um final feliz para o casal Rachael e Deckard? Por outro lado, é exatamente por subverter o clássico romance sci-fi homem-máquina, que I´m Not A Robot acerta em cheio e inova no gênero. Por que o drama não teve o sucesso merecido? Como saber, afinal, até mesmo Blade Runner tornou-se um cult, mas foi um fracasso de bilheteria, na época.

 

Foram dois os motivos que me trouxeram à lembrança este drama: a falta de bons dramas românticos nos últimos tempos, e uma reflexão sobre a carreira de Yoo Seung-ho, um ator super talentoso, que tem tido pouca sorte com seus últimos projetos, quase todos medianos, para dizer o mínimo. Sua jornada artística, de ator mirim à jovem promessa de ‘Hallyuwood’ tem seus altos e baixos, comuns a qualquer profissional, mas ele tem muito mais a oferecer. Embora Yoo Seung-ho tenha se consagrado em papeis marcantes e psicologicamente ‘pesados’, como Missing You, há dois dramas muito bons, mas, novamente, de pouca repercussão, que chamaram minha atenção para uma nova faceta de seu talento, a comédia. Tanto em I´m Not A Robot como em My Strange Hero (SBS, 2018) ele encarna papeis nos quais sua beleza fica em segundo plano. Os atores costumam dizer que é muito mais difícil fazer rir do que fazer chorar, e, se Yoo Seung-ho nos comove profundamente em Remember: War of Son, nos diverte imensamente com o chaebol neurótico de I´m Not A Robot.

  

Sabemos que todo jovem milionário dos dramas românticos coreanos precisa de uma garota ‘do povo’ para lhe ensinar a viver e amar com intensidade. Aí é que entra um dos personagens mais encantadores e divertidos da história dos kdramas, Jo Ji-a (ou Aji 3). Chae Soo-bin (A Piece of Your Mind), com seu rosto de boneca de porcelana encarna dois personagens que, teoricamente, não poderiam ser mais diferentes. Jo Ji-a é uma jovem que se esforça genuinamente para ser alguém na vida, mas a sorte nunca está ao seu lado. Ela mora de favor na casa do irmão mais velho, o advogado Jo Jin-bae (Seo Dong-won), que a repreende constantemente por sua instabilidade profissional. Ji-a sonha em emplacar no mercado algum de seus muitos inventos, mas os constantes fracassos começam a cobrar fatura sobre seu caráter naturalmente positivo. Neste momento crítico de sua existência surge a oportunidade de ao menos ganhar um dinheiro fácil... Seu ex-namorado, o Dr. Hong Baek-gyun (Uhm Ki-joon, de Scent of a Woman), um engenheiro de robótica, desenvolve um projeto inovador de inteligência artificia, que planeja vender para um grande investidor. Junto de sua pequena equipe, formada pelos engenheiros Pi (Park Se-wan), Ssanip (Ko Gun-han) e Hoktal (Song Jae-ryong) ele inventa uma criada androide, usando como modelo visual a jovem Jo Ji-a. O androide, que o cientista batiza de Aji 3, é vendido para o excêntrico milionário Kim Min-kyu, que vive isolado do mundo em sua mansão, e acha uma ótima ideia ter uma companhia ‘não humana’ para sua vida solitária.

 

No entanto, as coisas se complicam quando, no prazo de entrega, o androide apresenta um defeito e o Dr. Hong fica com medo de perder o grande negócio e o financiamento para suas futuras pesquisas. Assim, ele procura a ex-namorada e pede que ela finja ser a criada androide por uns poucos dias. Ela aceita o encargo, sem imaginar a tremenda confusão em que irá se meter ao ter de lidar com um jovem rico, neurótico, e com segredos que nem mesmo seus familiares mais próximos conhecem.

 

Imagine I´m Not A Robot como uma daquelas comédias românticas clássicas do “casal desconhecido que é obrigado por circunstâncias alheias a sua vontade a compartilhar moradia”, só que neste caso a garota deve fingir 24 horas por dia ser um androide. Dá para imaginar as situações engraçadas que se desenrolam em meio a essa situação absurda, mas é graças a atuação brilhante de Chae Soo-bin, como Aji 3, que, igual ao seu ‘dono’, quase acreditamos que esta fantasia poderia tornar-se realidade.

 

E o segundo ponto positivo, certamente, é a ótima química entre o casal de protagonistas, e, nos poucos episódios em que passam separados, sentimos muita falta de sua interação, e da revolução de sentimentos que o encontro gera em ambos, - ele, por não poder admitir estar se apaixonando por um robô, e ela, por ter de esconder seus sentimentos, por motivos óbvios.

 

E, apesar do tom geral ser de uma comédia leve, os protagonistas não são tratados como tolos, muito pelo contrário... Kim Min-kyu é um jovem solitário, com traumas do passado que sua fortuna e poder não podem curar. Jo Ji-a, em oposição a Min-kyu, tem acolhimento emocional da família, mas lhe falta o apoio financeiro, e o reconhecimento profissional ao seu talento como mulher inventora. E é essa troca de experiências e de sentimentos que transformam a simples fantasia num belo romance, mais do que real!

março 11, 2022

Dark Hole (drama, 2021)

 


País: Coréia do Sul

Gênero: Suspense, Ficção

Duração: 12 episódios

Produção: OCN/tvN

Direção: Kim Bong-joo

Roteiro: Jung Yi-do

Elenco: Kim Ok-vin, Lee Joon-hyuk, Song Sang-eun, Lim Won-hee, Jo Ji-na, Bae Jung-hwa, Oh Yu-jin, Park Keun-rok, Kim Byung-ki, Lee Ha-eun, Kim, Do-hoon, Lee Ye-bit, Jung Hae-kyun, Heo Hyung-kyu, Jeon Yeo-jin,Yong-jin, Yun Seul.

 

Resumo

 

Uma agente policial de Seul, ao seguir a uma pista de uma criminosa, chega à cidade de Mooji, justo quando surge uma enorme cratera na floresta local, da qual sai uma névoa escura que transforma os moradores em zumbis.

 

Comentário

 

É admirável a criatividade dos roteiristas coreanos para reciclar temas do cinema de suspense, como os lendários mortos-vivos... Os zumbis já são considerados um arquétipo da cultura ocidental, especialmente de Hollywood. Mas o oriente tem todo o direito de explorar este mito, já que sua origem é milenar, e presente em várias culturas.

E parece que os temas apocalípticos viraram febre, mesmo com a sensibilidade de todos à flor da pele após dois anos de pandemia. Depois de Dark Hole tivemos mais dois dramas com zumbis no protagonismo, Happiness (tvN, 2021) e All of Us Are Dead (Netflix), ambos excelentes!

O roteirista Jung Yi-do (Save Me, Strangers from Hell) é um mestre do terror psicológico; seus personagens são tão ou mais assustadores que os eventos místicos, ou antinaturais que os afligem. Tanto é verdade que em Dark Hole o autor divide o suspense, com certo senso de ironia, entre a misteriosa ‘névoa’ mortal, e a pura e imparável maldade humana.

O drama começa com uma cena ‘spoiler total’ do terror que os protagonistas irão enfrentar heroicamente dentro de poucas, mas intensas horas. Mas vamos reservar a curiosidade ao espectador e, enquanto isso, dias antes...

... A inspetora Lee Hwa-sun (Kim Ok-vin, Arthdal Chronicles) chega à cidade de Mooji, seguindo a pista de uma assassina perigosa chamada Lee Soo-yeon. Um forte impulso de justiça e vingança levam a policial da Unidade de Investigação Criminal da Agência Metropolitana de Seul a perseguir a criminosa de rosto desconhecido. No entanto, a única coisa estranha que Lee Hwa-sun encontra é uma profunda cratera, em meio à floresta que cerca a cidade. Ela fica paralisada diante do enorme buraco, que expele lentamente uma estranha névoa escura. Como disse Nietzche, “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” É o que a ‘névoa’ faz com as pessoas, as obrigam a encarar seu lado mais escuro.

Yoo Tae-han (Lee Joon-hyuk, A Poem A Day, Forest of Secrets), motorista de um caminhão guincho, percorre as estradas do interior, na companhia do amigo Nam Yeong-sik (Kim Han-jong). Ex-policial, Tae-han é um tipo tranquilo, mas seu senso de justiça e sua bravura afloram na hora do perigo.

Quando o povo da pacata cidade de Moojin se dá conta de que a tal ‘névoa’ é responsável pela súbita onda de violência, infelizmente, é tarde demais, e o caos se instala ali. Depois de cruzar brevemente com Lee Hwa-sun, Yoo Tae-han refugia-se no hospital local, junto de pacientes e outros cidadãos assustados. Ali ele reencontra o ex-colega, o policial Park Soon-il (Lim Won-hee, Romantic Doctor,Teacher Kim), e o novato Cho Hyun-ho (Jo Ji-na, Love Alarm), cuja jovem esposa se encontra no final da gravidez.

Enquanto isso Lee Hwa-sun ajuda uma enfermeira a resgatar sua pequena filha, Do-yoon (Lee Ye-bit, The Uncanny Counter). A policial e a criança acabam fugindo para a Escola Secundária de Moojin, cujos alunos e professores também fazem barricadas para evitar a entrada dos zumbis; a essa altura, boa parte dos moradores foram contaminados pela névoa tóxica. Na escola, a policial enfrenta um perigo ainda maior do que a névoa, e alerta à Tae-han por rádio, para que tome cuidado.

Como se a situação não estivesse tensa o bastante, um grupo de fanáticos religiosos, liderados pela xamã Madame Kim (Song Sang-eun, Private Lives), é convencido do poder místico/divino da ‘névoa’. Yoo Tae-han e a equipe do hospital são cada vez mais hostilizados pela xamã e seus asseclas.

Lee Hwa-sun e Yoo Tae-han unem forças para resgatar os poucos sobreviventes, e derrotar o Mal, no melhor estilo “Caça Fantasmas”.

Para quem aprecia um bom suspense clássico, com muita correria, heróis simpáticos, Dark Hole é a aventura certa para se embarcar. Kim Ok-vin e Lee Joon-hyuk formam uma dupla encantadora, - ela ousada e passional, ele corajoso e bem-humorado. O PD Kim Bong-joo (The Phone, 2015) é muito eficiente na condução do elenco, grande e variado, e as cenas de ação são fluidas e emocionantes. A porção jovem do elenco é carismática, especialmente a protagonista Oh Yu-jin (True Beauty), no papel da estudante Han Dong-rim, e Kim Do-hoon (Here´s My Plan), como seu nêmesis, o asqueroso Lee Jin-seok. Mas é a atriz mirim Lee Ye-bit que encanta com seu talento natural, e sua força ao interpretar um personagem tão sofrido.

Eu assistiria uma segunda temporada de Dark Hole, ou quem sabe um longa-metragem? É pouco provável que isso aconteça, mas ao menos há uma boa notícia para os fãs de Kim Ok-vin, que é a confirmação da 2ª temporada de Arthdal Chronicles.

outubro 15, 2021

Why I Dress Up For Love / Kikazaru Koi ni wa Riyuu ga Atte (drama, 2021)

 


País: Japão

Gênero: Romance

Duração: 10 episódios

Produção: TBS TV

Direção: Tsukahara Ayuko

Roteiro: Kaneko Arisa

Elenco: Kawaguchi Haruna, Yokohama Ryusei, Maruyama Ryuhei, Nakamura Anne, Mukai Osamu, Natsukawa Yui.

 

Resumo

 

A vida da relações públicas e influenciadora digital Mashiba Kurumi sofre uma grande reviravolta quando ela se muda para um apartamento compartilhado por quatro pessoas muito especiais.

 

Comentário

 

Apesar de gostar muito dos dramas japoneses, admito que fazia muito tempo que não assistia um bom dorama romântico, mas por sorte descobri essa maravilha que é Kikazaru Koi ni wa Riyuu ga Atte. Na verdade esse dorama se encaixa mais no gênero ‘slice of life’, mas tem amor o bastante para dar ao espectador mais romântico.

 

A charmosíssima atriz Kawaguchi Haruna (Madame Marmalade no Ijo na Nazo: Shutsudai Hen) encarna a jovem relações públicas Mashiba Kurumi. Mashiba divide seu tempo entre o trabalho no escritório central da rede de lojas de decoração El Arco Iris, e seu hobby de influenciadora digital. Seu ídolo, mestre e paixão secreta há anos é o CEO da empresa, Hayama Shogo (Mukai Osamu, de Hungry!). Hayama é um jovem empreendedor, - apaixonado por decoração, ele viaja pelo mundo em busca de objetos belos, que despertem o desejo consumista de seus clientes. Com um chefe bonito, elegante e bem humorado, não é surpreendente que Mashiba se apaixone por um homem que tem tanto em comum com ela. Apesar do jeito carinhoso de Hayama e da intimidade que o convívio proporciona aos dois, Mashiba parece conformar-se em curtir o amor à distância, por mais frustrante que lhe possa resultar.

 

A vida relativamente tranquila de Mashiba é afetada com a mudança repentina para o apartamento da professora de culinária Saotome Koko (Natsukawa Yui, de A Lone Scalpel). Saotome está de partida para uma temporada no exterior e Mashiba fica feliz por conseguir uma nova morada em tão pouco tempo. Só que Saotome omite o fato de que a amiga terá de dividir o espaçoso apartamento com mais três hóspedes. Mashiba não esconde a decepção, ainda mais ao ser acomodada em um minúsculo quarto/closet da casa. Mashiba fica apertada como uma sardinha enlatada em meio a seu guarda-roupa de fashionista. Mas este é o menor de seus problemas, pois ela terá de aprender a conviver com pessoas interessantes, mas muito diferentes dela.

O primeiro choque de personalidades será com o chef de cozinha Fujime Shun (Yokohama Ryusei, de Cursed in Love). Fujime é um rapaz simpático e prestativo (e muito gato), mas seu estilo de vida minimalista, e sua clara aversão ao consumismo horroriza Mashiba, embora com o tempo passe a intrigá-la. Outro novo colega de quarto, muito mais afável, é Terai Haruto (Maruyama Ryuhei, de Strawberry Night), psiquiatra que atende seus clientes virtualmente, e, por isso mesmo, passa a maior parte do tempo em seu quarto trabalhando.

Por fim, temos a misteriosa Hase Ayaka (Nakamura Anne, de Love Rerun), uma artista plástica excêntrica que evita ao máximo qualquer contato com os demais hóspedes. Saotome Koko trata os hóspedes com carinho de mãe, oferecendo pratos deliciosos que prepara com esmero, e parece divertir-se com o grupo pra lá de heterogêneo que conseguiu reunir em sua casa.

Apesar de Mashiba Kurumi ser a grande protagonista, é agradável ver os demais personagens saírem das sombras e suas estórias serem contadas com tanta sensibilidade no drama. À medida que a intimidade entre os hóspedes cresce, suas vidas se entrelaçam e são alteradas indelevelmente. Assuntos que costumam ser tabu nos dramas japoneses são tratados com naturalidade, sem dramatizar desnecessariamente as situações. As alegrias e os perigos da “fama digital”, por exemplo, são abordados com muita propriedade, de uma forma poucas vezes vista, - só me lembro de um drama coreano que fala seriamente sobre o assunto, Search: WWW (tvN, 2019).

Com um elenco que demonstra grande entrosamento, Why I Dress Up For Love nos deixa mensagens importantes sobre respeitar as diferenças, cultivar as boas amizades, a sororidade, e, acima de tudo, não desistir de lutar por nossos sonhos, seja na profissão, seja no amor.

setembro 29, 2021

On the Verge of Insanity (drama, 2021)

 


País: Coréia do Sul

Gênero: Drama

Duração: 16 episódios

Produção: MBC TV

Direção: Kim Keun-hong, Choi Jun-in

Roteiro: Jeong Do-yoon

Elenco: Jeong Jae-young, Moon So-ri, Lee Sang-yeob, Kim Ga-eun, Kim Nam-hee, Park Sung-geun, Park Won-sang, Ahn Nae-sang, Cha Chung-hwa, Jo Bok-era, Yoo Jung-era, Kim Yoon-seo, Dong Hyun-bae, Baek Min-hyun, Kim Joong-ki, Nam Neung-mi, Jung Ye-na, Chun Young-hoon, Choi Yoon-jung.

 

 Resumo

 A estória de um trabalhador que luta para preservar seu emprego, mas, acima de tudo, sua dignidade como ser humano.

 

 Comentário

 

Por mais que se aprecie fantasia, ou ficção científica, chega a hora em que o tema satura o paladar do espectador. Parece que essa é (finalmente) a temporada para romper o feitiço e focar a atenção em assuntos mais terrenos. Os dramas recém-estreados D.P. (Netflix), Lost (jtbc) e mesmo a comédia romântica Hometown Cha-cha-cha (tvN) são exemplos de bons dramas de interesse humano. O recém-concluído You Are My Spring (tvN) também abordou com muita sensibilidade as marcas emocionais deixadas por traumas de infância e conflitos familiares. Agora, dificilmente outro drama irá superar o banho de realidade nua e crua na vida do cidadão médio, como a comédia dramática On the Verge of Insanity.

 É com humor e ironia em abundância que acompanhamos um recorte da rotina de um grupo de funcionários de uma corporação ligada a produção de eletrodomésticos de última geração. A estória começa no “chão de fábrica” da Hanmyeong Eletronics, onde se desenrola uma cena das mais amargas, a da demissão em massa dos trabalhadores. Aos funcionários mais antigos é oferecido o “benefício” da demissão voluntária, em troca de uma indenização miserável. A encarregada das negociações é Dang Ja-young (Moon So-ri), uma diretora de RH experiente e implacável. Acontece que um único funcionário, o técnico em eletrônica Choi Ban-seok (Jeong Jae-young), recusa-se a aceitar um acordo amigável com o patrão. Ele acaba sendo transferido para outro módulo da empresa, o de pesquisa e desenvolvimento de produtos.

 Choi Ban-seok é empregado da H.E. há 22 anos e, por ter passado por vários setores durante todo este tempo, é conhecido e admirado por todos os colegas engenheiros. E é com uma frágil, mas teimosa esperança de finalmente encontrar o reconhecimento ao seu talento, que ele encara o novo posto no laboratório de desenvolvimento de novos produtos. No entanto, seu entusiasmo logo será esmagado pelo jovem diretor do setor, Han Se-kwon (Lee Sang-yeob, Top Star Yoo-baek, Good Casting). Formado em uma universidade de elite, Han Se-kwon chegou ao cargo de diretor mais por sua habilidade marqueteira, do que por suas qualidades como engenheiro. Ele é o tipo de profissional que sabe vender suas ideias aos superiores e aos clientes. Além de seu histórico de sucesso na criação de novos produtos, Han Se-kwon é primo do CEO da empresa. No entanto, o mundo da tecnologia é competitivo como poucos, e o jovem engenheiro sente que Choi Ban-seok pode arrebatar seu título de gênio criativo da companhia.

 Se Han Se-kwon acha que Choi Ban-seok é seu pior inimigo, vai surpreender-se com a chegada de um adversário muito pior, sua ex-mulher, Dang Ja-young. A diretora de recursos humanos batalha há anos para trabalhar na sede da empresa, mas acaba sendo transferida para o setor de pesquisa e desenvolvimento de produtos, trazendo consigo o fantasma de mais uma crise dentro da empresa. Moon So-ri (Peppermint Candy, HaHaHa) é uma atriz fantástica,com uma carreira muito respeitada e premiada no cinema, por isso mesmo é um prazer vê-la destacar-se igualmente na TV (como no drama médico, Life, 2018). Dang Ja-young é o personagem mais complexo e carismático da trama, uma atuação vibrante e com grande timing de humor de Moon So-ri!

 On the Verge of Insanity é o drama mais estimulante que assisti em muito tempo, e foi inevitável compará-lo com o já clássico Misaeng (tvN, 2014). Ambos os dramas tem como tema central os desafios do trabalho numa era pós-industrial, tecnológica, imediatista. Se em Misaeng temos como protagonista um jovem de classe baixa lutando para encaixar-se no mercado competitivo de uma metrópole, em On the Verge of Insanity o protagonista enfrenta a possibilidade cruel de um final de carreira precoce. Se o mercado rejeita o jovem pela falta de experiência, pior ainda é a forma como o profissional experiente é tratado como um estorvo, especialmente pelas grandes corporações. O protagonista Choi Ban-seok não é mais um número no balanço de gastos da empresa, ele é uma pessoa com sonhos, ambições, e um talento em pleno florescer, mesmo passando dos 40 anos de idade.

 O bônus de On the Verge of Insanity está no otimismo saudável adotado pela roteirista Jeong Do-yoon (Witch´s Court, Babyfaced Beauty), o que é uma dádiva, já que impossível não apaixonar-se por seus personagens, mesmo com todas suas falhas, muito humanas. O amadurecimento do texto da escritora é visível, um salto memorável em qualidade, comparando-se com seus trabalhos anteriores. A direção é pragmática, mas os dois PDs, Kim Keun-hong (especializado em épicos da MBC) e Choi Jun-in podem ser cumprimentados pela condução impecável do elenco, de grandes coadjuvantes.

 O que dizer de Jeong Jae-young, uma estrela do cinema coreano, ganhador do prêmio de melhor ator no 68º Festival Internacional de Locarno, pelo filme Right Now, Wrong Then, em 2015, e que vem nos presenteando nos últimos anos com grandes atuações na TV, em dramas como Assembly, ou Partners for Justice). Na pele do engenheiro Choi Ban-seok ele encarna o tipo de personagem ‘do povo’, que é o seu forte. Em Assembly ele é um sindicalista que tenta ‘consertar’ o mundo através da política, com resultados pouco felizes. Felizmente, em On the Verge... o protagonista é um homem muito mais permeável às mudanças e está sempre um passo à frente de seus oponentes. Vale a pena conhecer o amável Choi Ban-seok e absorver ao menos parte de suas importantes lições de vida.

maio 10, 2021

Into the Ring (drama, 2020)

 


País: Coréia do Sul

Gênero: Política, Comédia, Romance

Duração: 16 episódios

Produção: KBS2 TV

 

Direção: Hwan Seung-gi, Choi Yeon-soo

Roteiro: Moon Hyun-kyung

 

Elenco: Nana, Park Sung-hoon, Ahn Nae-sang, Yoo Da-in, Shin Do-hyun, Ahn Kil-kang, Kim Mi-soo, Choi Go, Han Joon-woo, Bae Hae-sun, Yoon Joo-sang, Oh Dong-min, Park Mi-hyun.

 

Resumo

 

A jovem Goo Se-ra resolve entrar na política pelos piores motivos possíveis, mas acaba encarando sua responsabilidade como legisladora e como cidadã.

 

Comentário

 

Into the Ring (ou Memorials, ou The Ballot) é um drama que aborda os meandros da política de uma forma muito bem humorada, mas sem deixar de tocar em temas sociais relevantes.

Goo Se-ra (Nana, Justice, Oh My Ladylord; membro dos grupos pop After School, Orange Caramel), moradora de Mawon-gu, aos 29 anos ainda se vira entre bicos e empregos temporários, e um contrato de trabalho permanente parece um sonho distante. Não é que a garota seja desinteressada ou pouco inteligente, mas a falta de ambição e foco na carreira são algumas de suas fraquezas. Os dramas familiares também não a ajudam em nada, - o pai de Se-ra tem um caráter forte, superprotetor, enquanto sua mãe peca pelo excesso de ingenuidade e deslumbramento. E é exatamente num dos piores momentos da vida de Se-ra, mais uma vez desempregada, que sua mãe se envolve (não pela primeira vez, como ficamos sabendo) em um esquema de pirâmide e perde as parcas economias da família. É bem provável que o pai de Se-ra, Goo Young-tae (Ahn Kil-kang, Watcher) não aceite bem as más notícias e acabe por abandonar o lar. Sendo assim, ela e a mãe, Kim Sam-sook (Jang Hye-jin, Crash Landing on You, Parasite) guardam segredo, enquanto tentam recuperar o dinheiro perdido.

É assim que Se-ra tem a ideia de concorrer à vereadora pela cidade de Mawon-gu, contando com suas boas relações pessoais. Se-ra é figura conhecida e temida pelos funcionários da prefeitura da cidade. Seu hábito de prestar queixas aos órgãos competentes do município, pelos mais diferentes motivos, fizeram dela uma espécie de celebridade na vizinhança. Apesar de viver enrolada com seus problemas pessoais, Se-ra tem um senso de justiça invejável. Suas melhores amigas, Jang Han-bi, ex-judoca (Shin Do-hyun, Hospital Playlist) e Kwon Woo-young, mãe solteira (Kim Mi-soo, Hy Bye Mama) são os únicos e fieis cabos eleitorais de sua pobre campanha eleitoral.

O ex-namorado de Se-ra, Kim Min-jae (Han Joon-woo, Be Melodramatic) é o primeiro, mas não o último, a tentar demovê-la da ideia de entrar para a política. O namoro fracassou, ironicamente, devido à ambição do rapaz, que deseja passar de assessor do presidente da câmara de vereadores, Jo Maeng-duk (Ahn Nae-sang, The Guest), a seu herdeiro político. O único filho do vereador, Seo Kong-myung, afastou-se do convívio familiar desde a morte de sua mãe. Seo Kong-myung (Park Sung-hoon, Justice, Psychopath Diary), formado em universidade de prestígio, funcionário municipal de 5º grau, não tem a mínima intenção de seguir os passos do pai.

Apesar de terem sido grandes amigos na infância, Goo Se-ra e Seo Kong-myung não se viam há anos. Mesmo assim, seu reencontro confirma que sua ligação sentimental é profunda e indissolúvel. O pragmatismo de Kong-myung combinado à passionalidade de Se-ra será o motor para as grandes mudanças na política e na vida dos cidadãos de Mawon-gu.

É impossível não comparar Into the Ring a um drama clássico, The City Hall, da roteirista de TV mais incensada da Coréia do Sul, Kim Eun-sook. Sem exagero, acho que dá para fazer um paralelo muito estimulante entre os dois dramas, seja pelo tema político, seja pelo romance que floresce entre duas pessoas tão diferentes, mas que crescem juntas, tanto emocional quanto profissionalmente. E Moon Hyun-kyung faz um trabalho muito digno em sua estreia como roteirista, ainda mais se equiparada a uma grande escritora como Kim Eun-sook. The City Hall (2009) continua sendo, até hoje, meu drama romântico favorito, e talvez por isso mesmo eu tenha apreciado tanto a bela estória e o elenco jovem e talentoso de Into the Ring. A carismática atriz e cantora Nana está muito confortável no papel da irreverente Goo Se-ra, e é conduzida com muita habilidade pelo PD Hwan Seung-gi, com quem coincidiu no drama policial Justice (KBS2, 2019). Aliás, Nana e Park Sung-hoon também contracenaram em Justice, embora naquela oportunidade como antagonistas. Um motivo a mais para ver Into the Ring é desfrutar da mudança radical do ator Park Sung-hoon, de psicopata a anti-herói romântico, deveras impressionante!

Into the Ring é divertido, romântico, às vezes quase surreal, mas o lado obscuro e frustrante da política nunca é subestimado, e a realidade sempre leva a melhor, por mais puros que sejam os corações, e maiores seus ideais...

 


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